Ainda ontem chorei de saudades
Ainda ontem chorei de saudade.
Saudade de minha mãe,
Saudade de meu lugar,
Saudade dos passarinhos que sempre cantavam lá.
Saudade da meninada, meus primos a se criar
Naquele sertão verdim, verdim de encandear.
Saudade daquelas grotas onde ficam a escorrer
As águas que vem da chuva pra terra toda embeber.
Saudade da fantasia que tinha meu coração
De pensar que minha prima era o meu amorzão.
Saudade das borboletas voando sobre o capim
Saudade doce saudade que flue dentro de mim.
Saudade de acordar e pra mamãe eu correr
Sair de seu doce abraço e depois ir me benzer.
Saudade de meus irmãos brincando no tabuleiro
Durante todo o ano de janeiro a janeiro.
Saudade da buruaca que nossa mamãe fazia
Era gostosa, embora, às vezes dava asia.
Saudade do seu Bastião quando no inverno ia
Morar no doce sertão pra minha grande alegria.
Saudade sinto do cheiro do chão molhado também
Que exalava da chuva, cheiro que fazia bem.
Saudade do meu quintal do milho verde a crescer
E das espigas assadas pra meninada comer.
Saudade da casa velho que o bisavô construiu
E que com a simplicidade no eterno amor nos uniu.
Saudade do rouxinol que no inverno morava
No oco de uma forquilha que a casa sustentava.
Saudade de uma abelho que no caibro ela fazia
Sua casinha de barro pra pôr sua filharia.
Saudade do cacimbão do banho de meio dia
Quando o calor era forte e que nunca arrepia.
Saudade eu sinto também de cada uma brincadeira
Que a gente brincava bem na vida sem ter besteira.
Saudade da chuva forte e do banho no lamaçal
Na biqueira me molhava mesmo até com vendaval.
Saudades sinto saudades de brincar de cai no poço
De tirar uma menina e beijá-la no pescoço.
Saudade desses namoros desfaçado em brincadeira
Quando o coração floria uma paixão verdadeira.
Ai que saudade da minha vida de menino.