DESESPERO DO CHICO
Rio Chico sofre na guerra
Insana, velhaca e ingrata
Que de pouquinho lhe mata
Minérios jogados da terra
Condena à morte a pastagem
Sua água doente e cansada
Deixa-nos triste mensagem
Carrega no leito detritos
Sem vida e na ribanceira
Apelam frágeis aos gritos
Os familiares aflitos
Com a esperança vazia
Procuram um Zé Pereira
Que não voltou nesse dia
Desespero viaja ao vento
Olhares retratos de dor
É penetrante o tormento
Infinito o sofrimento
O jeito é jogar uma flor
A quem lutou como um bravo
Branco e derradeiro cravo
Segue o rio todo ferido
Em dois lados dividido
Num o sonho é vendido
Lá está o fim da pobreza
Acreditam e logo depois
Resta somente a certeza
Dura igualdade nos dois
Velho Chico antes fosse
Riachinho, mero afluente
Talvez não padecesse doente
Levasse sua água doce
Como eterna miragem
No trajeto de sua viagem
Não houvesse mortal barragem