PABULAGENS DE POETAS
Peleja virtual: Poeta Cassiano (PC) x Ismael Gaião (IG)
PC - Eu tô virado num bode,
Num coice de bacurim.
Não admito chafurdo,
Munganga ou coisa assim.
Hoje eu tô me coçando
E os dentes todos trincando
Pra dar em cantador ruim.
IG - Você pode vir assim,
Com atitude macabra,
Mas enfrenta um cantador
Criado ao leite de cabra,
Que não teme seu feitiço
E vai dar no seu toitiço
Sem medo de abracadabra.
PC - Eu tô virado no cabra
Que sapecou fogo em Roma.
Estou dando o resultado
Antes de fazer a soma.
E de bulir eu não deixo,
Se eu der um soco no queixo
O cantador entra em coma.
IG - Eu lhe faço um hematoma
Quando lhe virar de borco.
Lhe dou farelo e lavagem,
Que é comida de porco.
Canto pra lhe derrubar
E obrigo você rimar
Com essa rima de "orco".
PC - Tô que nem bosta de porco,
Como o fedor de gambá.
Mordo até uma formiga,
Rasgo igual um carcará.
Tô igual a dor de íngua,
Puxo a formiga com a língua,
Como faz tamanduá.
IG - Canto igual a sabiá
E o seu canto é de perua.
A cantiga é uma só
Não avança nem recua.
De cantador amostrado
Já derrubei um bocado,
Mas agora a vez é sua.
PC - Tô atirando na lua,
Jogo pedra em procissão.
Tô virado num preá,
Pego corisco com a mão.
Se eu pegar um cantador,
Pode ser bom como for,
Eu derrubo ele no chão.
IG - Essa sua exibição
Há muito tempo eu conheço,
Mas seu repente valente
É coisa que eu desconheço.
Em cantador fraco assim
Vou batendo pelo fim
Até chegar no começo.
PC - No dia que eu amanheço
Com a virilha virada,
Deixo o mel e como a abelha
Saio dando ferroada.
Não respeito nem o trem.
Se cantador vier cem,
Serão cem covas "cavada".
IG - Gosto da sua zoada
De cantador arrojado,
Mas para cantar comigo
Tem que ser mais inspirado.
Pois sou carrasco sem pena.
Comigo você empena,
Quebra e perde o rebolado.
PC - Quando eu estou inspirado
Canto igual um passarinho.
Salto pra lá e pra cá
Sem desviar do caminho.
Sem ter pressa de chegar,
Se faltar com quem brigar,
Eu vou brigando sozinho.
IG - Sou predador no seu ninho.
Pego os ovos e arrebento,
Jogo fora seus filhotes,
E seu sossego atormento.
Se quiser cantar comigo
Faça orações, peça abrigo
Para aumentar seu talento.
PC - Sou bruto igual um jumento
Pra poeta ruim e fraco.
Cavo um buraco com as mãos,
Boto o poeta num saco.
Mato ele no repente,
Dou de tapa, murro e dente,
E jogo ele no buraco.
IG - No repente eu me destaco
Porque canto sem ter medo.
Meu verso de improviso
Sempre cai como um torpedo.
E um cantador sem bagagem
Fica enxergando miragem,
Babando e chupando o dedo.
PC - Eu não fujo do enredo
Quando pego na viola.
Faço o verso no improviso,
Puxo a rima da cachola,
Sem fazer um pé quebrado.
E deixo o poeta ao lado
Preso na própria gaiola.
IG - Meu canto serve de escola
Pra cantador enrolado
Que quando canta comigo
Gagueja e fica engasgado.
Se remexe na cadeira
Como quem anda na feira
Com o sapato apertado.
PC - Eu nunca comprei fiado
Pra não ouvir desaforo.
Se alguém pisar no meu calo
Acaba entrando no couro.
E "cantadorzim" gabola,
Que me enfrenta na viola,
Pede arrego e sai no choro.
IG - Sou bactéria no soro
Pra currar seu aperreio.
Vim pra lhe deixar perdido
Como cego em tiroteio.
Se cantar muita besteira,
Puxo a sua focinheira,
Seguro você no freio.
PC - Eu vou lhe furar no meio
Co'uma flechada de verso.
Atravessar o seu peito,
Que pra isso eu sou perverso,
Destruir a sua meta
Pra esquecer que foi poeta
E sumir do universo.
IG - Eu lhe deixo submerso,
Se enforcando no meu laço.
Cada verso que improviso
Lhe deixa num embaraço.
Você pode repetir,
Passar noites sem dormir
Mas não fará o que faço.
PC - Eu fico no seu encalço
Para você não fugir,
Dou-lhe um murro na cabeça
Para ver você cair,
Porém cair eu não deixo,
Dou outro embaixo do queixo
Pra fazer você subir.
IG - Se você não desistir
Vai me servir de cobaia,
Pois a plateia com pena
Vai pedir que você saia.
Se demorar na saída
A sua triste partida
Será debaixo de vaia.
PC - Para que a plateia caia
No aplauso com emoção,
Parabenizo e agradeço
Ao meu parceiro e irmão,
Pois não ganhei nem perdi,
Mas com certeza aprendi
Muito com Ismael Gaião.
IG - Aprendi nesse baião
Mais do que cantando um ano,
Pois esse grande poeta
Tem um coração humano.
Na peleja virtual
Passei pra amigo real
Do Poeta Cassiano
Barbalha - CE / Recife - PE