Vá de vez atrás de reza
Vá pregar prego na lua
Morder sua língua de trapo
Catar piolho em caçote
Beijar na boca do sapo
Mas não venha me dizer
Que o melhor para mim
É ficar de bico calado
Não tenho medo de careta
Muito menos de dedo cruzado
Já engoli muito desaforo
Vivendo entre fogo trocado
Mas nunca desfiz de mim
Nem abandonei a luta
Assistindo a vida calado
Se dúvidas tanto de mim
É porque é um abestado
Desses que nem sabe o que diz
Mas vive de encher o saco
De cabra bom que nem eu
Que não faz mal a ninguém
Mas tem juízo desaforado
Outro dia um compadre meu
Achou de fazer galhofa
Debaixo do meu bigode
Acanalhando minha sogra
Tirando sarro da cara dela
Dizendo que a cara da veia
Parecia uma coruja morta
Olhei pra ele atravessado
Como quem encara peba
Com a língua entre os dentes
As orelhas comendo terra
Sapequei-lhe uma cuspida
Que a cara de lombriga dele
Ficou pedindo foi reza
O cabra baixou logo a crista
Parou de ciscar de macho
Sapecou o rabo entre as pernas
Virou de vez um despacho
Relinchou algumas palavras
Tão pra dentro dele mesmo
Que nem sei dizer o recado
Olhei pra ele de rabicho
Tomei o goto do gosto
Mandei que fosse de vez
Se alimentar lá no cocho
Nunca mais falasse asneira
Nem que fosse da sogra alheia
Com cara de desgosto
Agora cale essa boca
Arregale bem esses olhos
Respire de uma vez só
Vá soltando o ar em molhos
Não sou besta de conversar
Com quem não quer escutar
Nem me encara nos olhos.