40 anos em poucos dias
Seis anos de faculdade,
veio, enfim, a formatura!
Decerto, àquela altura,
esbanjando mocidade,
aos vinte poucos de idade,
o futuro era um brinquedo,
que mais tarde ou mais cedo
à porta nos bateria.
Fosse João ou Maria,
nenhum de nós tinha medo.
Cada um com seu segredo,
pois a vida é mesmo assim!
Algo de bom ou ruim,
toma parte do enredo:
seja doce, seja azedo,
seja amargo como o fel;
seja soneto ou cordel,
seja prosa ou poesia,
seja noite, seja dia,
seja Cartola ou Noel.
Seja o “Help” do bedel
nas provas de cirurgia;
seja a vã filosofia
desse velho menestrel;
seja um solo de Ravel,
seja um frevo de Gonzaga;
seja uma reza, uma praga,
um churrasquinho de gato;
o passado num retrato,
lembrança doce ou amarga.
Seja um nó na veia cava,
seja na tripa gaiteira,
num plantão de noite inteira
duma sexta-feira brava,
quando a gente trabalhava
pra garantir a cachaça
num barzinho lá da praça
do Derby ou chora menino,
e Vicente Celestino
bebia na mesma taça.
Como a vida sempre passa,
também passou para nós!
Hoje muitos são avós,
felizes, cheios de graça,
se desviando da traça
e da ferrugem da vida:
da coronária entupida
e da perda da libido;
do abdômen crescido
e da bochecha caída.
Da energia perdida
a cada passo mal dado;
do tédio que foi gerado,
pelos percalços da vida;
de toda inveja escondida
no coração do mesquinho
e da ressaca do vinho
em plena segunda-feira,
ou da manchinha matreira
de batom no colarinho.
De viver em desalinho
pelo canto da sereia;
dos donos da coisa alheia
e das pedras do caminho.
E de não viver sozinho
sem um amigo sequer;
não apanhar da mulher
ao pedir a saideira
no final da sexta-feira,
com um cabo de colher.
Da língua de quem souber
da sua vida privada.
E se for mulher casada,
nem peça: se Deus quiser!
Pois o diabo também quer
e tem a cauda comprida,
pra vasculhar sua vida
desde o ventre materno,
e lhe julgar no inferno
como um causa perdida.
À minha gente querida,
da turma Pedro Segundo,
desejo o melhor do mundo,
além da missão cumprida.
E que Deus nos dê guarida,
seja na terra ou no céu,
e nos conceda um troféu,
em louvor à nossa obra:
saúde e amor de sobra
e uns versinhos de cordel.
E que vá, pro beleléu,
a angústia e a tristeza,
e que se ponha na mesa
toda a doçura do mel.
Pois é do nosso o papel
saudar, com muita alegria,
o nosso "vixe Maria"
do coração nordestino,
e até o intestino,
quando bufar poesia.
Como Branchu já dizia,
num livro jamais escrito:
quando o céu fica bonito,
por volta do meio-dia,
ou quando o vento assobia,
ao soprar a luz da vela,
é preciso ter cautela
no refrão do lá-rá-lá...
pois se for no Sabiá:
Marcelo vira Marcela...
E empurra na goela
caipirinha, guaiamum...
a cuba libre de rum,
a galinha cabidela...
a banana com canela,
receita bem feminina,
que nem toda de medicina
(nem a pós-graduação)
sabe explicar a junção
de banana vaselina.
Se a vida nos ensina
a saber como e porquê,
eu pergunto pra você,
que chegou de Teresina:
onde anda a cajuína
a castanha de caju,
o bago do babaçu,
a cera da carnaúba
e as primas da suruba,
que cheiram peixe pacu?
Alguém de Caruaru,
que se encontra no recinto,
pode provar que não minto
pois sou também, como tu,
que dança o maracatu,
do réveillon ao Natal,
e bebe até passar mal
pra vomitar a ressaca
sobre o leão da fuzarca,
num popoti lacrimal.
Por favor não queiram mal
este poeta sem rima,
que já se encontra no clima
do frevo fenomenal.
Pois meu amigo, afinal,
que hoje toca pandeiro,
revelou ao mundo inteiro
o seu mais nobre talento,
além de socar o vento,
na solidão do banheiro.
Jogo um cupido certeiro
nas nossas musas queridas:
as rosas, as margaridas,
das quais eu fui jardineiro.
Que Deus não lhes roube cheiro,
inda que guarde em segredo,
sob as pedras dum rochedo,
a essência do perfume,
que a mão hostil do ciúme
leva na ponta do dedo.
Aos que partiram mais cedo
para o colo do divino,
por capricho do destino,
ou algum engano ledo.
Junto aos demais, os concedo,
com muito amor e carinho,
que além da taça de vinho
e as cordas do violão,
a beleza da canção
do canto do passarinho.
E também concedo o ninho
do coração beija-flor,
que se alimenta de amor
no coração do vizinho.
Não há de chorar sozinho
quem aceitar este abrigo,
por isso trago comigo
um buquê de poesia,
pra fazer jus, neste dia,
ao coração de um amigo.
Seis anos de faculdade,
veio, enfim, a formatura!
Decerto, àquela altura,
esbanjando mocidade,
aos vinte poucos de idade,
o futuro era um brinquedo,
que mais tarde ou mais cedo
à porta nos bateria.
Fosse João ou Maria,
nenhum de nós tinha medo.
Cada um com seu segredo,
pois a vida é mesmo assim!
Algo de bom ou ruim,
toma parte do enredo:
seja doce, seja azedo,
seja amargo como o fel;
seja soneto ou cordel,
seja prosa ou poesia,
seja noite, seja dia,
seja Cartola ou Noel.
Seja o “Help” do bedel
nas provas de cirurgia;
seja a vã filosofia
desse velho menestrel;
seja um solo de Ravel,
seja um frevo de Gonzaga;
seja uma reza, uma praga,
um churrasquinho de gato;
o passado num retrato,
lembrança doce ou amarga.
Seja um nó na veia cava,
seja na tripa gaiteira,
num plantão de noite inteira
duma sexta-feira brava,
quando a gente trabalhava
pra garantir a cachaça
num barzinho lá da praça
do Derby ou chora menino,
e Vicente Celestino
bebia na mesma taça.
Como a vida sempre passa,
também passou para nós!
Hoje muitos são avós,
felizes, cheios de graça,
se desviando da traça
e da ferrugem da vida:
da coronária entupida
e da perda da libido;
do abdômen crescido
e da bochecha caída.
Da energia perdida
a cada passo mal dado;
do tédio que foi gerado,
pelos percalços da vida;
de toda inveja escondida
no coração do mesquinho
e da ressaca do vinho
em plena segunda-feira,
ou da manchinha matreira
de batom no colarinho.
De viver em desalinho
pelo canto da sereia;
dos donos da coisa alheia
e das pedras do caminho.
E de não viver sozinho
sem um amigo sequer;
não apanhar da mulher
ao pedir a saideira
no final da sexta-feira,
com um cabo de colher.
Da língua de quem souber
da sua vida privada.
E se for mulher casada,
nem peça: se Deus quiser!
Pois o diabo também quer
e tem a cauda comprida,
pra vasculhar sua vida
desde o ventre materno,
e lhe julgar no inferno
como um causa perdida.
À minha gente querida,
da turma Pedro Segundo,
desejo o melhor do mundo,
além da missão cumprida.
E que Deus nos dê guarida,
seja na terra ou no céu,
e nos conceda um troféu,
em louvor à nossa obra:
saúde e amor de sobra
e uns versinhos de cordel.
E que vá, pro beleléu,
a angústia e a tristeza,
e que se ponha na mesa
toda a doçura do mel.
Pois é do nosso o papel
saudar, com muita alegria,
o nosso "vixe Maria"
do coração nordestino,
e até o intestino,
quando bufar poesia.
Como Branchu já dizia,
num livro jamais escrito:
quando o céu fica bonito,
por volta do meio-dia,
ou quando o vento assobia,
ao soprar a luz da vela,
é preciso ter cautela
no refrão do lá-rá-lá...
pois se for no Sabiá:
Marcelo vira Marcela...
E empurra na goela
caipirinha, guaiamum...
a cuba libre de rum,
a galinha cabidela...
a banana com canela,
receita bem feminina,
que nem toda de medicina
(nem a pós-graduação)
sabe explicar a junção
de banana vaselina.
Se a vida nos ensina
a saber como e porquê,
eu pergunto pra você,
que chegou de Teresina:
onde anda a cajuína
a castanha de caju,
o bago do babaçu,
a cera da carnaúba
e as primas da suruba,
que cheiram peixe pacu?
Alguém de Caruaru,
que se encontra no recinto,
pode provar que não minto
pois sou também, como tu,
que dança o maracatu,
do réveillon ao Natal,
e bebe até passar mal
pra vomitar a ressaca
sobre o leão da fuzarca,
num popoti lacrimal.
Por favor não queiram mal
este poeta sem rima,
que já se encontra no clima
do frevo fenomenal.
Pois meu amigo, afinal,
que hoje toca pandeiro,
revelou ao mundo inteiro
o seu mais nobre talento,
além de socar o vento,
na solidão do banheiro.
Jogo um cupido certeiro
nas nossas musas queridas:
as rosas, as margaridas,
das quais eu fui jardineiro.
Que Deus não lhes roube cheiro,
inda que guarde em segredo,
sob as pedras dum rochedo,
a essência do perfume,
que a mão hostil do ciúme
leva na ponta do dedo.
Aos que partiram mais cedo
para o colo do divino,
por capricho do destino,
ou algum engano ledo.
Junto aos demais, os concedo,
com muito amor e carinho,
que além da taça de vinho
e as cordas do violão,
a beleza da canção
do canto do passarinho.
E também concedo o ninho
do coração beija-flor,
que se alimenta de amor
no coração do vizinho.
Não há de chorar sozinho
quem aceitar este abrigo,
por isso trago comigo
um buquê de poesia,
pra fazer jus, neste dia,
ao coração de um amigo.