A carroça que leva a solidão
Já parei para rimar
Sobre castelo dourado
Sobre princesa bonita
Esperando namorado
A serra misteriosa
Imponente e gloriosa
Com passado memorado
Falei sobre uma criança
Que ganhou meu coração
A florzinha mais bonita
Que nasceu nesse sertão
A pequena yasmin
Nosso anjo querubim
A musa da inspiração
E depois de tantas rimas
Que falavam de amor
De esperança e de vida
Na fala de um cantador
Meu coração bateu forte
Só em pensar que a morte
É um mau demolidor.
E foi assim que pensei
Nas dores que há no mundo
Como a vida é uma chama
Que apaga num segundo
E como o homem destrói
Tudo que Deus constrói
Desde o solo mais fecundo.
E pensando nessa vida
Eu decidi escrever
Colocar sobre o papel
O que na vida ei de fazer
Comparando sempre a vida
Minha joia mais querida
Ao mais belo alvorecer.
Por isso peço ao bom Deus
Que me dê inspiração
Pra criar alguns versinhos
Com métrica, rima e oração.
E que a divina bondade
Que traz a felicidade.
Navegue meu coração
Caminhando na cidade
Onde a tarde se findava
E alguns raios de sol
Lá bem longe se mostrava
Devagar ia saindo
Para a noite que chegava
Olhando pra aquele céu
Fui parar numa pracinha
Fiquei olhando as pessoas
Vi as crianças que tinha
Cada qual com o seu sorvete
Brincando de amarelinha
Quando de repente olho
Por detrás de um balcão
Sentado numa cadeira
Com os sapatos na mão
Um senhor já de idade
Recitando uma canção
Me aproximei e sentei
Perto de sua cadeira
Ele olhou pra mim e disse
Já busquei toda maneira
De melhorar esse mundo
De uma forma mais ligeira
Mais agora me pergunto
Porque tanta ingratidão
Quando trabalho aqui
Ou na venda do Tião
Em Brasília tem um monte
Só de fama e diversão
Enquanto pego a enxada
Pra limpar o meu quintal
As noticias que escuto
Todo dia no jornal
É de roubo assalto e morte
E de crime virtual
Todo dia que acordo
Bem as três da madrugada
Pra limpar o meu roçado
Tem um monte na calçada
Falando da vida alheia
E de quem não vale nada
Como pode alguém sair
Dirigindo pela rua
Sem respeitar os sinais
Achando que a pista é sua
Se achando o bacana
Jogando pedra na lua
É droga por todo canto
Trafico por todo lado
São os jovens infratores
Esse é o resultado
De quem não preserva a vida
Sabendo que está errado.
O velho respirou fundo
Amassou o seu chapéu
Tirou do bolso um cachimbo
Olhou de novo pro céu
E disse você está vendo
O pedaço desse véu?
È apenas um detalhe
De tudo que Deus nos deu
Em todo canto há vida
Sendo tudo meu e seu
Só não sabe dessa herança
Quem a bíblia nunca leu.
Por isso meu bom rapaz
É necessário viver
Comportamento seguro
É eficaz aprender
Não queira que a morte
Acabe com sua sorte
Antes dela aparecer.
Agora preste atenção
Há tudo que vou falar
A vida acima de tudo
Irei aqui relatar
Mostrando que a vivencia
É bem fácil de acabar.
Essa vida é um mosaico
Onde tudo se perdeu
Criança deixa chupeta
Achando que já cresceu
Não brinca mais de boneca
De tudo isso esqueceu.
É motoqueiro pirado
Fazendo giros no ar
Animais soltos na rua
Parecendo desfilar
Crianças abandonadas
Nas ruas sem te um lar
E quando chove parece
Que é dia de diversão
Todo mundo toma banho
Entre raios e trovão
Liga fios na tomada
Sem muita preocupação
Tem outros que querem é festa
E vivem em meio à orgia
E quando aparece a AIDS
Falam que não a conhecia
Ai começa o tormento
Ho meu Deus quanta agonia.
Viver não é farrear
Não e se drogar e beber
Não é poluir o ar
E nem brincar de viver
Não é ferir nem matar
Nem tão pouco perecer.
Meu avo sempre dizia
No tempo da mocidade
O pouco com Deus é muito
Concordo com essa verdade
Pois quem vive com o simples
Não usa de falsidade.
Eu trabalho todo dia
Cuidando do meu roçado
Depois venho para a venda
Vender a vista e fiado
Mas tem gente que não vive
Do suor abençoado
Trabalho não é brinquedo
Sabemos que é obrigação
A pessoas que esquece
Que na sua profissão
Há riscos que só existem
Por falta de proteção
Muitos falam do progresso
E da tecnologia
Mais há coisas nesse mundo
Que nos enche de magia
Sem precisar arriscar
Essa vida de alegria.
O velho continuou
Porém pouco respirava
Queria falar da vida
E eu de nada falava
Sentado no meu lugar
Somente lhe escutava
Ele pegou o cachimbo
Arrastou o matulão
Tirou de dentro um isqueiro
Acendeu só com uma mão
Depois soltou a fumaça
Parecendo um vulcão.
Agora chegou a vez
Deu lhe falar um pouquinho
Porque preservar a vida
E seguir um bom caminho
Cuidando da natureza
Com um pouco de carinho.
E foi com este andarilho
Velho mundo carrancudo
Levando nas suas costas
A fama de ser sisudo
Que aprendi a gostar
E pra sempre proclamar
A vida acima de tudo
Quando a brisa abre seu leque
Revestida de paixão
As arvores fazem balé
E compõe uma canção
Acompanhadas do vento
Que toca seu violão
E nos sussurros cantados
No vai e vem, no dançar.
Na brisa fria que passa
Envolvida no cantar
Vem ele enfeitando o céu
Aquecido pelo véu
O mais belo do luar
Traz em sua bolsa prata
Saudades da meninice
Do lobisomem e da bruxa
Na mente da criancice
Que morava lá na lua
Quem sabe na mesma rua
Do país que vive Alice.
As estrelas tilintando
Faiscando sem parar
Brilham feito criancinhas
No parquinho a brincar
Parecendo uma ciranda
Que não para de piscar.
E assim é o luar
Revestido de segredos
Jogados na noite clara
Os mais belos dos enredos
Sussurrado pela lua
Ao som dos arvoredos.
Histórias que são contadas
Nos alpendres das fazendas
Ou nos sítios lá da roça
Onde todos fazem rendas
E das bocas das senhoras
Escutamos muitas lendas.
E quando a noite descobre
A lua do manto escuro
Cada canto se transforma
No pedaço mais seguro
Lendas, contos e enredos.
Redescobrem seus segredos
No espaço do futuro.
É assim meu bom rapaz
Que aproveito minha vida
Transformo um pouco de tudo
Diminuo minha lida
Vivendo cada segundo
No coração desse mundo
De forma menos sofrida.
Agora que já falei
Basta você aprender
E plantar essa semente
Para um dia florescer
Sobre os espinhos da terra
Que morrem pensando em guerra
E esquecem de viver.
Quando olhamos para o céu
As estrelas faiscavam
Já era tarde da noite
E os astros passeavam
A brisa toda contente
Festejando alegremente
Pela lua esperavam.
Eu estava diferente
Depois de ouvir o velhinho
Ele ajeitava os sapatos
Pra seguir o seu caminho
Pegou a sua carroça
E depois seguiu sozinho
La bem longe eu avistava
Fugindo da escuridão
A carroça que levava
Um pouco de solidão
Mais uma lição de vida
Que aprendi daquele irmão.
Depois segui caminhando
Me sentindo bem mais leve
A vida parece outra
Aos olhos de quem não deve
E de quem preserva a chama
Que se apagará em breve
E assim quando os humanos
Pensar em mudar um dia
Escreverei um decreto
Em forma de poesia
Preservando meu viver
Para nunca padecer
Nem viver de agonia.