Trocando de corpo
Por Airam Ribeiro
O louco também ama
A sua louca da calçada
Na sua maneira de ser
Ela também é amada.
Já fizeram um estudo
O espírito é que vale tudo
O corpo não vale nada.
Nesta incógnita vida
Por não poder muito falar
Vou dizendo por parábola
O quanto podia gostar
Como tudo é proibido
Fico no canto escondido
Esperando você chegar.
Nas metáforas da vida
Sempre estarei te olhando
Com outros olhos bem sei
É que vou te avistando.
De repente chega você
Aí então não sei por quê
Meus olhos vão cegando.
Então não vejo mais nada
Nada já não posso falar
Fico mudo em meu mundo
Vendo você conversar
Só te olho e não me vê
Eu bem em frente a você
Sem poder te abraçar.
Dizem que o poeta é louco
Que sai por aí a escrever
Frases não ensaiadas
Para poder se manter
No seu alimento do dia.
Faz da vida a sua alegria
Uma maneira de viver.
E ele vai escrevendo
De dia e as madrugadas
Perde o sono enche a folha
Que nem vê a alvorada
O galo canta e só ele
Sabe dos sintomas dele
E das vidas vivenciadas.
Viveu em muitos lugares
E em cada vida que viveu
Morou na França, na África...
Com o amor que conheceu
Foi também numa roça
Que viu numa palhoça
Um antigo amor seu.
As lembranças do passado
Faz ele a noite levantar
Pegar a caneta e papel
Pra tudo poder anotar
As lembranças distantes
Que via naquele instante
Fazendo-o então recordar.
Escravo em uma senzala
Via a sua amada escrava
A lhe chamar pra socorrer
Quando o feitor a açoitava;
E em direção a gritaria
Num tiro viu a sua alforria
Na bala que lhe acertava.
Com os olhos já fechado
Ouvia os gritos da amada.
Quando enfim acordou
Estava em outra estrada.
De um engenho era o senhor
Porém dando seu amor.
Pra escrava que retornava.
Tantas vidas já vividas
E mais vidas para viver
O poeta então escrevia
Para um dia seu povo ler.
As viagens que ele fazia
Sendo adulto o velho ia
Retornando como bebê.
Em todas as idas e vindas
Ele adquiria progresso
Tendo ele o livre arbítrio
Para ter o seu ingresso
Só o bem ele escolhia
Pois só a ele competia
Não ficar no retrocesso.
Um dia ele retornou
Lá nas terras dos gerais
No sertão da Bahia
Lugar de muitos cafezais
Viveu por lá onze anos
Quando viu os seus planos
Mudado por seus pais.
Já com o corpo envelhecido
Teve sua última moradia
Na cidade de Itanhém
Extremo sul da Bahia.
O espiritismo conheceu
Mudando os planos seu
Dando-lhe sabedoria.
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