A lavanderia do caixa 2

Fui a uma lavanderia

Pra lavar peças de pano

Certo de que lá teria

Quem lavasse sem engano

E que lá não sofreria

Nenhuma forma de dano.

Foi grande a decepção

Quando na loja eu entrei

Vi atrás de um balcão

Uma moça que eu pensei

Que fosse o próprio patrão

Mas eu muito me enganei.

Não havia maquinário

Muito menos lavadeira

Nem sabão, mesmo ordinário,

Não havia cabideiro

Podem até achar hilário

Mas é tudo verdadeiro.

A moça sorriu pra mim

Com olhar de quem procura

Demonstrar que está a fim

De sair pra uma aventura

Disse a ela que assim

Minha roupa pouco dura.

Ela riu e respondeu

O senhor é divertido

Aqui vem quem escondeu

O que está investido

Vêm aqui porque sou eu

Faço a coisa ter sentido.

Veja a porta ali ao lado

Ela está escancarada

Lá eu faço o arrazoado

Deixo a grana bem lavada

Lá é tudo tributado

Lá existe uma pousada.

Para eu lavar dinheiro

Não preciso de sabão

Lavo tudo, por inteiro,

Sem deixar rastro no chão

Para ser um fazendeiro

Basta ter um cinturão.

Aqui tem nota fiscal

Por um preço camarada

Ela limpa o capital

Que surgiu quase do nada

Não é nada especial

É pra ser escriturada.

O dinheiro é uma ponte

Mas não nasce no pomar

Precisa ter uma fonte

Pra poder justificar

Mas é um erro gritante

Comprar bens pra registrar.

Se o fizer será multado

Sem ser bem esclarecido

Também vai ser processado

Sonegando o adquirido

E depois de condenado

Recolhido num presídio.

Pra isso tudo evitar

Alugue a minha pousada

E para complementar

O motel la da estrada

Juntos eles vão lavar

A fortuna acumulada.

Não preciso do serviço

Disse à moça que sorria

O que ganho no ofício

Nunca dá pra trinta dias

Se você tem compromisso

Perdi sua companhia.

Eu saí de lá correndo

Certamente amedrontado

A moça estava querendo

Limpar o que é sonegado

O que ganho eu compreendo

Precisa ser declarado.

O que tenho é quase nada

Mas é fruto do trabalho

É penosa a caminhada

Que começa com o orvalho

Todavia na jornada

Sinto que um pouco valho.

Não preciso de fortuna

Tenho pouco pra viver

O dinheiro é como espuma

Acaba quando mexer

Para a alma é a verruma

Que aumenta o padecer.

Nisso tudo que falei

Só existe uma verdade

O dinheiro que guardei

Não me deu felicidade

E por isto não terei

Uma gota de saudade.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 27/10/2018
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