Não sou Nazareno nem anacoreta
I
Eu não sou anacoreta
Nem também sou nazareno.
Ao mundo faço careta
Mas meu esgar é sereno.
Não moro atrás da mureta
Nem às margens do Tirreno.
II
Busco a vida com sabor
Em contato com o campo.
À tarde, em forte rubor,
Resplandece um pirilampo.
Tirei da lua o fulgor
E dela arranquei o tampo.
III
Toda amizade é bem vinda
E, de fato, bem marcante
Pois divido a noite linda
Com um sonho causticante.
Não tenho amor na berlinda
Nem mágoa que eu não decante.
IV
Lambisco um banquete lauto
E tomo um vinho frugal.
Não sou bebedor incauto
Nem cantor de madrigal.
Sou joio da cor do asfalto
Que se espalhou no trigal.
V
Vejo um barco do casebre
Que, navegando altaneiro,
Vai veloz como uma lebre,
No mar singrando ligeiro.
Aqui dentro sinto a febre
Que dura mais de um janeiro.
VI
Não me isolo, sou cometa
Que surgiu lá no horizonte:
Forte brilho de veneta,
Sobe e desce pelo monte
Fibrilando igual gameta;
Na terra não há quem conte.
VII
Bem às margens do Tirreno
Vejo mais de uma mureta.
O luar belo, sereno
Na penumbra faz careta.
Só que eu não sou nazareno
E nem sou anacoreta.
***
(01/11/2012)