A viseira
Airam Ribeiro
O animá paça a inxergá
A sua estrada a percorrê
A carroça ele está a puxá
Pra onde o seu dono querê
O burro é um pau mandado
Puxa e também é montado
Só serve pra iço, pode crê!
Na cangáia o dono bate
O burro muda de direção
Às chicotadas ele não rebate
Já custumô com o patrão
Seu dono lhe põe a viseira
Pra ele num fazê besteira
E pra num saí da sua mão.
Quando chega à tardinha
Lhe é posto um cabresto
Pra ele cumê só na faxinha
Qui é imposto no contesto
Teimoso e sem capacidade
Ele não vê as oportunidades
Porque tá fora do contexto.
A viseira é tipo uma lavagem
Que o dono faz com seu animá
Ele pode vê outra pastagem
Que tem ao redó do matagá
Veno só o que tá na sua frente
Ele não vê pasto diferente
E vai achano a viseira normá.