Tropeiro Aposentado

I

Meu tempo bom de tropeiro

Já passou faz muito tempo.

Na vida tudo se esvai,

Mas a saudade não sai

Aqui do meu pensamento.

II

Eu sinto muita saudade

Das noites de lua cheia,

Do acampamento na mata...

A gente queimava lata,

Dormia em cama de areia.

III

Toda a carga descansava

Em jacás feitos de vime.

Enquanto as mulas dormiam,

Meus companheiros faziam

Festa sob o céu sublime.

IV

A fogueira sempre acesa,

Energia do sertão,

Tangia os bichos do mato.

O que aquecia, de fato,

Era a coberta, o quentão...

V

De vez em quando, eu me vejo

Sentado à beira da estrada

Olhando a vida que passa.

Ser tropeiro não tem graça

Sem tropa, sem lua, sem nada.

VI

Os caminhos são de asfalto,

Os cavalos são jamantas;

Ninguém mais dorme no chão,

Também não toma quentão...

- Minhas saudades são tantas!

VII

Meus companheiros se foram,

Morreram ou desmontaram.

Sou tropeiro sem destino,

Tristonho e muito sozinho;

Só as lembranças ficaram.

VIII

O que resta em meu delírio,

É pegar o violão.

Canto e choro no meu canto,

Por cada légua e recanto

Que guardo no coração.

***

Estou tentando esvaziar o velho baú.

(Hortolândia - SP, 02/11/2004)

Jarrê
Enviado por Jarrê em 23/10/2018
Reeditado em 15/03/2021
Código do texto: T6484129
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