CACHORRO GULOSO
CACHORRO GULOSO
Miguezim de Princesa
I
Todo cachorro guloso
Vive fazendo alvoroço:
Não deixa que outro encoste
Quando é hora do almoço,
Come até empanzinar,
Mas não quer largar o osso.
II
Mesmo saciada a fome,
Fica na área rondando.
Se surge um cachorro novo,
O velho fica espreitando,
Com raiva, mostrando o dente,
Perto da ração, rosnando.
III
Assim também é o poder.
Pode a ascensão demorar,
O sujeito passar fome,
Até mesmo se humilhar,
Mas depois que pega o osso,
Dá o Cão, não quer largar.
IV
Vale tudo nesse jogo,
Até mentir e roubar,
Passar rasteira no outro,
Perseguir e difamar;
Em casos mais extremados,
Vale até mesmo matar.
V
Gente que nunca roubou
E viveu na retidão,
Cega por ideologia,
Passa a defender ladrão,
Com a veia do pescoço inchada
De tanta convicção.
VI
Chama logo de nazista
Quem aponta pro ladrão,
Só pode ser um fascista
Quem faz essa acusação
Ao bandido “injustiçado”:
“Ele roubou, mas deu pão”.
VII
Os fins justificam tudo,
Até a maior maldade:
Roubar, matar, esfolar,
Não importa a crueldade,
Porque eles fazem isso
“para o bem da humanidade”.
VIII
- O outro é torturador,
Ou defensor da tortura! -,
Exclamam os que acreditam
Viver com a alma mais pura,
Enquanto quebram a Nação
E cavam mil sepulturas.
IX
Nas filas dos hospitais,
Doentes desenganados;
Nas ruas da amargura,
Milhões de desempregados;
As obras abandonadas,
Um povo vilanizado.
X
Não pode existir maldade
Justificada em um bem,
Não se obriga um espírito livre
A seguir quem não convém,
A vida está em redor,
Esse seu mundo melhor
Não engana a mais ninguém!