REVOLTA DOS AGRICULTORES
Plantei milho e feijão
Fava e gergelim
Macaxeira e amendoim
De tudo até algodão
Mas só que no Sertão
Quando chove é quase nada
Pois tem casa destelhada
Que não molhou nem o chão
Até dentro de um riacho
Quando venta faz poeira
E o arroz de primeira
Não segurou nem um cacho
Seja em cima ou embaixo
Todo plantio se perdeu
Que esse ano não choveu
Nem pra apagar um facho
Perguntei ao operário
Por que que no Ceará
Não se consegue ganhar
Nem um mínimo salário
Pois plantei um equitário
E cuidei com muito amor
Mas a chuva que chegou
Não encheu nem um aquário
Qual é nosso pecado
Explique isso também
Nunca matamos ninguém
Nem roubamos um bocado
Não somos desocupados
Como tanta gente fica
Mas tudo só se complica
É cá no nosso roçado
Esse ano não deu certo
Nada do que inventei
Desde janeiro plantei
E sempre mais me aperto
E quem quiser ver de perto
Eu mostro a minha palhoça
No lugar da minha roça
Ta pior que no deserto
Tudo que a gente faz
Alguma coisa destrói
Mas mesmo o que mais dói
Não vai tirar minha paz
Não acaba com meu gás
E nem vai me deixar louco
Pois mesmo que chova pouco
Aí é que eu planto mais.
A meu pai, Antonio Alves de Oliveira