Desejo de urubu
Desejo de urubu
Enquanto o peixe assa
Enquanto o cuscuz cozinha
Vou ficar aqui sentado
No meu sofá, na salinha
Lembrando dessa anedota
Que com certeza não é minha.
Um dia à meia noite
Uma mulher acordô:
-Marido, tô desejano
E me faça o favô
De pegar um urubu
Pro desejo que estô.
O homem mei assustado
Ficô sem muito entender.
-Onde é que hora dessa
Eu vô pudê me metê
Na mata, na escuridão e um urubu trazê?
- Ô home, seu num cumê
O bicho que tô quereno
O nosso fiim, coitado,
Parece que tô é veno
Se num morrê pode nascê
Cum urubu pariceno!
Não podendo demorar,
O pobre homem coitado
Pegou sua espingarda
Entrou no mato fechado
Pois não queria seu filho
Nem preto, nem um finado.
As 6 horas da manhã
O coitado regressou
E disse para a mulher que urubu não achou
Ela disse: tem nada não.
O desejo já passou.
Cumprido os 9 meses
O filho deles nasceu
A cor muito parecida
Com a cor de um pneu.
Olhou pro marido e disse:
Lembra do desejo meu?
Não ficando convencido
Com sua mãe foi falar
E contou do tal desejo
Que Não pôde realizar
Se aquilo tinha sentido.
Sua mãe pôs-se a explicar.
-Meu fii, sim, tem sentido
Tá certa sua muié.
Oia, quando eu buchuda
Também num dia qualquer
Quis cumer carne de boi
Mas não pudemo, pois é.
Nóis era sem condição
Num pudia comprá tudo
Mas o desejo passô
E nóis fumo até sortudo
De você num ter murrido
Apenas nasceu chifrudo.
O meu peixe já assou
E o meu cuscuz também
Agora, agradecer
A Deus, depois passar bem
Com peixe assado e cuscuz
E depois dizer: amém.
Carlos Jaime