O QUARTO HOMEM
O QUARTO HOMEM
Autor: José Rodrigues Filho
Grandes nomes do Nordeste
Paulo Dantas cita três:
Padre Cícero, em Juazeiro,
Que pela oração se fez;
Lampião na valentia,
Do Ceará à Bahia,
Combateu com altivez.
II
O terceiro homem citado
Primou pela inovação
Foi o Delmiro Gouveia,
Homem de muita visão,
Que o São Francisco usou
E em Alagoas instalou
Uma fábrica de algodão.
III
Esses nomes ventilados
Merecem tal louvação,
Todos cumpriram destinos
Que granjearam atenção,
Mas está faltando um nome
Que a esses três se some,
Talvez, com maior menção.
IV
O nome do quarto homem
Vou revelar por inteiro
Fez ele uma grande guerra,
No Nordeste brasileiro,
Revelam vários estudos
Foi a Guerra de Canudos
Líder Antônio Conselheiro.
V
Tal e qual o Padre Cícero,
Também era cearense,
Que lutou pra defender-se
Conduzindo muita gente,
Com diferentes propósitos
E um número maior de óbitos
Sobrou para o penitente.
VI
Pois na Guerra de Canudos
Eram desiguais as forças;
Juntos, polícia e exército,
Contra alguns cabeças ocas
Que Antônio Conselheiro,
Com intuito verdadeiro,
Prometeu encher as bocas.
VII
No ano noventa e seis,
Fim do século dezenove,
A escravidão está extinta
E a República não promove
Bem-estar aos ex-escravos
Que, sem trabalho e esfaimados,
Como procissão se move.
VIII
O latifúndio imperava
E a pobreza era abissal;
Serviço só de jagunço
A quem abraçasse o mal,
E a grande massa restante
Migrava qual boi errante
Buscando um pouso afinal.
IX
Então, Antônio Vicente
Mendes Maciel percebe
Que esses grupos de famintos
Da República não recebe
Nem terras nem donativos,
Melhor quando eram cativos
Que tinham “comes e bebe”.
X
Rasgou, por isso, o Edital
Do imposto pra República.
Não que fosse monarquista,
Mas só via a coisa pública
Como encargo do governo,
Pois considerava um erro
Sustentar Rei ou República.
XI
As afirmações, portanto,
De que era monarquista,
Serviram para o governo
Ir maquinando a conquista,
Certamente iniciada
Quando a madeira comprada
Não chegou já paga a vista.
XII
Pra construir uma igreja
O Conselheiro comprou
A madeira pra o telhado
E, a vista, ele pagou,
Mas o vendedor velhaco
Achando que ele era fraco
A madeira não mandou.
XIII
O Conselheiro se viu
Obrigado a revidar
E a madeira comprada
Disse que iria buscar...
O comerciante aflito
Alarmou que era um conflito
Que os “sem terra” iam criar.
XIV
Arlindo Leone – juiz
Da comarca em Juazeiro,
Pediu tropas a Salvador
Para o suposto entrevero
Sendo estas despachadas,
E por Solon comandadas,
Do exército brasileiro.
XV
Conselheiro pressentindo
Que a cidade fora armada
Não querendo confusão
Desistiu da empreitada;
Não foi buscar a madeira
Sabia que era besteira
Encarar a luta armada.
XVI
Tenente Ferreira Pires,
Com o juiz conluiado,
Resolveu desbaratar
O povoado renegado
Com cem homens do exército
Partiu pensando ter êxito
No que haviam planejado.
XVII
Esse parco contingente
Não poderia enfrentar
Os homens do Conselheiro
Que não queria lutar,
Mas a justiça arbitrária
Preferiu ser sanguinária
E essa guerra iniciar.
XVIII
Pois no caso da madeira
Era notória a razão,
Quem vendeu e não entregou
É quem merece punição,
E isso não aconteceu
Quem comprou e não recebeu
Fez o papel de vilão.
XIX
Os cem soldados de Pires
Em Uauá se acantonaram,
Quando “as gentes” de Canudos
Numa procissão chegaram
Pensando em propor a paz,
Mas Pires não foi capaz
E sobre o povo atiraram.
XX
Foi gente caindo morta
Pra tudo quanto era lado,
Houve reação do povo
E o confronto foi encerrado,
Mas deu pra Pires notar
Que, pra Canudos se entregar,
Tinha que ter mais “soldado”.
XXI
Voltaram descabreados,
Após saquear a Vila,
Desistiram de Canudos
Pregaram ódio e mentira,
Sem ouvir do povo a súplica
Espalharam que a República
Era péssima pra o caipira.
XXII
Que o exército brasileiro
Fora desmoralizado
Por um bando, de fanáticos,
Que vivia bem-armado,
Que era preciso exemplar
E, se possível, exterminar
Esse Arraial sublevado.
XXIII
O Frederico Solon,
Ficou bastante exaltado,
Indicou Febrônio Brito
Um major bem preparado
Pra comandar a ação
Da Segunda Expedição
Pra acabar com o povoado.
XXIV
A Segunda Expedição
Foi um fracasso total,
Major Febrônio voltou
Sem chegar ao Arraial
O qual ainda avistou,
Mas nele nunca pisou
Sua tática foi banal.
XXV
Achando que era fácil
Destruir um povoado
Formado por gente simples,
Por um louco comandado,
Não seguiu as instruções
Muitas armas e munições
Resolveu não ter levado.
XXVI
Pelo caminho veio gastando
Bala e tiros de canhão
Contra grupos que acossavam
O avanço da Expedição...
Logo voltou derrotado
Deixando o país chocado
Com sua falsa explicação.
XXVII
As divergências políticas
De grupos “florianistas”
Que aspiravam ter de volta
Governo militarista
Sem dó e sem compaixão...
A Terceira Expedição
Partiu pra impor a conquista.
XXVIII
Coronel Moreira César,
Foi seu duro comandante,
Um grande “florianista”
Que pretendia ir adiante:
Depor o então Presidente
Que era o “Casaca” Prudente
De Morais, um claudicante.
XXIX
O comandante Moreira
Trazia bestial fama,
Pois em Santa Catarina
Degolou homem e dama
Pensando o mesmo fazer
Em Canudos, foi morrer,
Pagou caro a sua gana.
XXX
Nessa Quarta Expedição
Dez Estados se juntaram
Para destruir Canudos
E, finalmente, lograram,
Mas o afã do Conselheiro
De igualar o povo inteiro
Eles nunca aniquilaram.
XXXI
Nessas campanhas morreram
Homens de alta patente;
Conselheiro venceu todos,
Pois morreu por estar doente,
Sonhando com igualdade
Ficou para a eternidade
Na mente de muita gente.
XXXII
Pergunto agora aos leitores
O lugar do Conselheiro.
Seria o Quarto lugar
Ou, com certeza, o Primeiro?
“Sertão Desaparecido”...
Caldeirão foi esquecido?
Falem Crato e Juazeiro.
Amélia Rodrigues-Ba. 30 de setembro de 2018.