O ENIGMA DO AMOR
Por Gecílio Souza
É pouca gente que entende
A linguagem do amor
Ele tem uma linguística
Transcrita no interior
São verbos que se traduzem
Em lágrimas ou em suor
O silêncio é voz da alma
Gramática de maior valor
Dos textos do coração
O rosto é o melhor tradutor
As mãos se fazem alfabeto
Quando necessário for
Palavras soltas ao vento
Iludem o interlocutor
No contato de dois seres
É bem distinto o calor
Em tudo se vê sentido
A vida tem mais sabor
Se o afeto é gratuito
Supera-se o mau humor
Não há dívidas nem cobranças
Sai de cena o cobrador
Quando se ama em silêncio
Até o rosto altera a cor
Promessas não asseguram
Algum enlace promissor
Importa se dois corações
Um do outro é morador
Nutrindo-se da confiança
Nenhum se torna traidor
As quedas são pedagógicas
O erro é um sábio instrutor
Nos reveses amorosos
Não há ninguém vencedor
Verbos não são sentimentos
Amar não é um favor
Reciprocidade é uma ponte
Um invisível corredor
Onde dois seres trafegam
Em meio ao prazer e à dor
Eis que no jardim do afeto
O espinho integra a flor
Se neste jardim há riscos
Fora dele há pedrador
Lá dentro há os desafios
Mas fora é desolador
O encontro de duas almas
É um dueto sedutor
Razão pela qual a ausência
Devasta como um trator
Que tal então nos amarmos
Com liberdade e vigor?