A VIAGEM DE JESUS E SEUS DISCÍPULOS.
De pochete a tiracolo
JESUS saiu do sinéidro
As mulé lavando o préido
Sujera dos apostólo
JOÃO levava no colo
Trinta quilo de farinha
Dois litro de gaisolinha
Pá tocá fogo nas tóra
Sementi de abobóra
Rezando a ave marinha!
Passando em betelelém
Cidade de Zé Limeira
O bando, já na cansera
Comprô passage de trem
Disse PEDRO, eu vô tomém
Sigura lá o meu banco
Qui eu tô limpano o tamanco
E eu num vô mais chamá
Vocês pra vim impurrá
O trem, prá pegá ano tranco!
Sóbi mala, tira mala
Bota a mala na buléia
Se chegá na Cesaréia
Vamu alugá um Opala
Quié pra vê si disintala
A demora dessa viagem
ANDRÉ pagô as passagem
Ói, que tá vino ele lá
Num para di recramá
Mulesta di pirangagem!
E o vapô segue o distino
Uma mulé tava prenha
Foguista caicanu a lenha
Vem TADEU num disatino
Ajuda tirá u minino
Vê ai se tem parteira
Hoje já é sexta feira
Si essi pesti num nascê
Amanhã num vai pudê (sábado)
Só mermo segunda feira!
Chegando a hora da janta
Os doze já bem ocado
Chamaro o garção dum lado
Siguraro na garganta
Dissero: Trais doze Fanta
I pá JESUS, pinga di lito
Meia banda dum cabrito
TOMÉ, pôs-se a duvidá
Só vô mermo acriditá
Quandu chegá o bendito!
Chegando a janta, TIAGO
Que é filho de Zebedeu
Levantando, se benzeu
Tomou da cachaça um trago
Dum canto que tava vago
Quando seu dono chegou
Olhou pro copo e falou:
Eu num tô achanu graça
Busquem lá outra cachaça
Ou na fuça d'um, eu dou!
Pra defendê o irmão
JOÃO, depressa correu
Trouxe a cachaça e dizeu:
Sinhô, num si zangue não
È só seu esse litrão
Senta ai e num faiz fita
Coma um perno di cabrita
Qui eu sei, si a pinga acabá
O sinhô podi transformá
Um tunél d'água, em birita!
A janta quagi acabano
Começou a dá fricote
SIMÃO, que era o zelote
E por nada, se zangano
E disse: Hoje eu mi dano
Si eu não pegá o salafrário
Qui arrombô meu armário
I butô bosta lá dento
Eu pego esse miserento
Sujô até meu rosário!
Fim do cumê, vão pra cama
Começa espirrar, FILIPE
O santo pegou u'a gripe
E o bando todo reclama
Já fai mai duma semana
Qui nói num dormi direito
Nóis num fala em preconceito
Mai vê si ocê colabora
E vai ispirrá la fora
Tenha um poco di respeito!
E o pau quebrô, que doeu...
Foi carvão pra todo lado
Hoje eu dô nesse safado!
Disse TIAGO de Alfeu
"Qui foi qui fizemos eu?"
Gritaram dois já em pranto
Foi um tal di rasgá manto
Lascá pau di fazê Cruz
"Não vâmu acordá JESUS"
Disse um qui tava num canto!
Já calmo, BARTOLOMEU
Chamou os onze na chincha:
Aqui dento ninguém lincha
Disse , e se escafedeu
Aqui num fico mais, eu
E já qui nói tamo im pé
Acordem lá a mulé
Lugar de feme é cozinha
Já é quagi manhazinha
Vâmu tomá um café!
Nisso, ouviu-se um grito
Foi tamanha a confusão
Quase caiu do vagão
Um dos doze, e bem aflito
Gritou: "qum foi o maldito
Que me empurrou nesse lance?
"Ora, dexi di romance
Seu pé que é grande, e além
Do mais, eu lhe digo, quem
Pariu MATEUS qui balance!
Nisso JESUS aparece
Acabando a confusão
Nos 'onze' passa um sermão
E diz: Vê si mi obedece
Se aprontem ai e desce!
Deixando o bando em ira
Cochixaram: Tá na mira
Vamo descê a mandioca
Nesse JUDAS carioca
Nos dedurou, o traíra!
E AQUI, EU EXPLICO AOS QUE
ACHAREM QUE É HERESIA
NÃO É, SOU 'TEMENTE' A DEUS
SÓ BRINCO C'OA POESIA
E, NAS MINHAS ORAÇÕES
SABEM MINHAS INTENÇÕES
JESUS E A VIRGEM MARIA!