DO PLANO AO DIREITO HUMANO (cordel à Luzia)
A História não é novidade
Mas quero em cordel registrar
Para toda posteridade!
Que é pra que frente à verdade
Se tenha um dia a coragem
Do triste querer recontar
A toda vinda geração
Do todo desta corrupção:
Que o plano não era bondade
Que era, sim!- só maldade
Dum “mundo " querer dominar:
Pra farra se eternizar.
A fala vinha sempre mansinha
Com o timbre de tantos coitados...
E dava nó bem apertado
No peito já todo arretado
De todos os bons corações...
(Que tenham todas as percepções)
Sabia-se fazer boa rima!
Do sofrimento herdado
Ao todo já amargurado!
No fundo dos tantos porões.
Gritava-se nos toldos montados
Poemas bem articulados...
Pra sempre nos enfeitiçar,
Dizia-se da fome do mundo
Dessa que tanto absurdo
Não para de nos agigantar
A tantos sempre a esfomear!
Falava-se em direito humano
Sequer se pensava no dano
Quiçá a se articular.
Falava-se das crianças nas ruas
Da pobre mulher moribunda
Dos ventres tão abandonados
Com balas... hoje já todos furados!
Perdidos de toda atenção.
Falava-se da então minoria
Cantada sempre com rima vazia...
Com verso ao “x” da questão
Ao todo nascido no solo
A ser cidadão-não um dolo!
Sofrido duma articulação.
Falava-se à toda humanidade
Esquecida, deixada de lado
E que esse nos seria o legado:
Não ter-se o Direito furtado,
Fazer-se única construção...
Para, enfim, ser uma grande Nação.
Falava-se do amor sonegado
Do todo dum chão só roubado
Na História decaída no vão
Dos becos sem nenhuma atenção.
Não tinha-se mais papo letrado!
Aliás, letras seriam o pecado...
E nem Deus seria perdoado
Se a ele houvesse oração.
Diziam-se o dono do mundo
Que sequer nenhum absurdo
Teria a sua intenção.
Que o que ocorria ali
Por culpa de toda as zelite
Deveras seria um acinte!
A toda população
Sofrida a pele e osso
Sem tem sequer um consolo
Na toda degeneração.
E ao nosso apocalipse
Com a palavra da equipe!
Daria-se grande solução.
O tempo corria apressado
Mister nos seria o furtado
Do tudo que fora combinado:
O plano da destruição.
Mas lá no papinho arretado
(sabia só o delegado!)
Dizia-se em esforço suado
Em discurso bem esgoelado,
Poema de sutil engodo...
Que tudo seria de todos!
Que no nosso destino lodoso
Preciso seria adubar
-Progresso a todos desfrutar!
Criança teria escola
Idoso teria só glória
Família teria seu teto
Não só o chão abjeto
Das ruas em povoação
Retrato da degradação...
Seria-se então só solução!
Doente teria saúde
E que a Nação amiúde
(dizia-se em plena altitude!)
Seria bem estruturada
Jamais seria alvejada
Por violência em ascensão,
Malandro seria barrado
Na lei da civilização!
“-enterrada a corrupção!”
Epitáfio então prometido
Em meio o discurso aguerrido
Da farra em prontidão.
E a falação só seguia
Explícita sessão de magia
De porca e vil ilusão...
Sem espaço para desgraça
A terra seria abençoada
Bandeira em ressurreição!
E todos estariam a salvo
Não mais se seria o alvo
Da antiga enganação
E povo achava era bão!
Mulheres teriam sua voz!
Jamais o destino atroz!
Poriam-se os tão cabra-macho
No prumo igual das suas mãos...
Falava-se para o todo criado...
À tanto desejo arretado
Que temos no nosso mundão.
Um dia um ágil delegado
Na mais fina prontidão
Nos convocou a Nação:
Contou do tudo furtado
Dum povo bem arruinado
Levado num papo furado
E de destino escaldado:
Sem ter pra cair nem seu chão.
O discurso já era notório
Engodo, dum período inglório...
Ruína de todo um povão,
Desgraça e escuridão
Em meio às labaredas
E a lama que vazou das represas
Chorou versos de impurezas
Rejeitos do inferno em questão.
O rio que um dia fora doce
Amargo morreu no seu leito
Até encontrar Bendegó:
Choraram ambos todo o dó.
Luzia gritou entre as chamas...
Com sua razão toda em chama
Num crânio desfeito em pó,
Nosso coração deu um nó!
E a grande mãe Natureza
Repleta de grande tristeza
Pelo que morria em vão:
Morreu de franca depressão.
“Zelite” também era fome
(Sequer valia um tributo
No afã de tantos corruptos!)
Compartilhada com as mãos
Vazias pra todos os lados,
Aos altos no assalto orquestrado,
Do conluio era todo o cenário:
Democracia sem pão.
E os circos a queimar pelo chão.
Abriram-se as armaduras
E a paz já bem taciturna
Deixou de bem respirar...
Sabia só resfolegar
Socorro pelo que se vivia
Verdade! Preciso era se salvar.
Chamaram a mídia acoplada...
Que atuava na noção bem lavada!
Para o escuro da triste razão...
E a Nação então dividida
Daria uma grande partida
Ao meio em comoção.
Os tiros eram pra todo lado
Cenário já todo rasgado
Produto da implementação.
Chamaram os Direitos Humanos
Alheio ao que todo o plano
Fazia com a multidão!
Direitos estavam no chão
Ajoelhados ao leilão
Da sorte da grande Nação.
Diante do que ali foi roubado
Direito fora todo alienado
Ao interesse do cão.
Sequer lá havia opção
Pra tanta deterioração.
Malandros já diplomados
Seriam então restaurados
Com a batuta nas mãos.
A mídia tomou o seu lado
Explícito em todo legado
Furtado da boa multidão,
A fé de consciência lograda
Fazia sua barraca armada
Nas vias de qualquer solução.
Chamaram o voto às urnas
Em meio às vidas taciturnas
“Empoderadas” do nada
Negadas à auto visualização...
Miséria virou dignidade
Corria por todas as cidades!
Como se fora a vontade
Dum povo em falsa ascensão
E a mídia, qual obra de arte
Lucrava de toda maldade
Ao povo em franca solidão.
O fim da História eu não tenho
Só conto em Cordel o desalento
Dum tempo em revolução...
Uma pausa: para mais uma explosão.
Não conto aqui na minhas linhas
Um ponto que seja mentira!
Silêncio se ouve aos gritos
De todo o verso que sinto
Embargado na multidão
Massiva,em franca cremação.
Ao longo de todo esse plano
Não houve um direito humano
Que nos estendesse as mãos!
(faço ao delegado exceção)
Direito alienado nas linhas
De todas as mais tristes entrelinhas
Das tantas vidas ao léu...
Vividas em árduo Cordel,
Da minha querida Nação.
Um conto em surreal comoção.