Lembrança Agalopada
Algumas lembranças que ficam marcadas
São belos momentos de quando criança
Momentos tão bons, pois tinha esperança
No meu coração uma dor não havia
Nenhuma maldade pra mim existia
Sempre rodeada de muita atenção
Olhando pra trás hoje vejo então
Que eu vivia alegre quase todo tempo
Não me preocupava em nenhum momento
Guardo tudo isso no meu coração
Lembro a minha mãe e as suas costuras
Uma roupa ou outra vivia fazendo
À tarde sentada eu via ela lendo
Sabrinas e Júlias lá no seu sofá
Depois na calçada ela ia se sentar
Conversando um pouco e olhando pra gente
Sempre muito atenta e bem sorridente
Se fosse preciso, virava um leão
Pra nos defender e dar educação
São essas lembranças que guardo na mente
Meu pai eu me lembro, chegando da feira
Às vezes trazia pra nós um presente
Qualquer brinquedinho que vinha pra gente
Tudo era motivo pra muita alegria
Tinha outra coisa que sempre fazia
Que eu adorava e fazia também
Espalhava os cordéis que comprava de alguém
Começava a ler só pra gente escutar
Pegando a viola já ia tocar
Lembrança gostosa que só me faz bem
Toda noite eu ia brincar na calçada
Juntava os amigos da rua todinha
Brincava de bola ou de amarelinha
De bola de gude, ou de se esconder
Rodar bicicleta, pular e correr
O joelho de vez em quando arranhava
Um Merthiolate de ardido eu passava
Na mesma horinha voltava a brincar
E sem energia era certo contar
Histórias de trancoso que nos assustava
Lá na minha escola era interessante
A hora do lanche era bem legal
Não tinha coxinhas, biscoitos e tal
Só era Kisuco e umas bolachinhas
Que eu não comia, trocava todinha
A melhor merenda a colega trazia
Trocava comigo e a gente comia
O bom da história era poder trocar
Era um piquenique só pra misturar
Não interessava a merenda que vinha
Na venda da esquina tinha uns docinhos
Que a gente comprava com muita frequência
O dono da venda tinha paciência
Porque demorávamos pra escolher
Era bala Soft e eu digo a você
Quem nunca engoliu, não viu agonia
A maria mole o suspiro e havia
Chiclete com anel e tinha um melzinho
Que ao terminar, mastigava o saquinho
E tendo dinheiro, isso era todo dia
Na adolescência, a coisa mudou
A gente trocou de cidade então
Deixei a Bahia, que era o meu chão
Vim pra Pernambuco e foi bem diferente
Mudando de ares, veio nova gente
Amigos amados que aqui conheci
Fui bem acolhida e aí percebi
Que meu coração já se dividia
Uma preferência já não mais havia
Gosto de Cupira e de Guanambi
Em bem pouco tempo finquei as raízes
A minha família aqui se formou
Onde eram só dois logo mais um chegou
Hoje são dois filhos, filhos desse chão
O que só divide mais meu coração
Que guarda lembranças tão lindas de lá
Não posso agora pensar em voltar
A não ser pra rever os meus velhos amigos
Por isso a todo mundo sempre digo:
Guardo tudo isso no meu coração!
24.08.18