A sina do poeta.

O poeta quando sofre

Dissimula o sofrimento

Rabiscando alguma estrofe

Com a cor do sentimento

Guarda o sofrer num cofre

Cheio de esquecimento.

Não escreve o que sentir

Não diz quem o inspirou

Não esquece quem partir

Cumprimenta quem chegou

Quando a vida lhe sorrir

Sabe que a hora chegou.

Nada espera de quem ama

Sabe que de nada é dono

O que é seu nunca reclama

O seu lar é o seu trono

Quando deita em sua cama

Em geral lhe falta o sono.

Nada espera do futuro

Sabe que a vida é luta

Não se põe atrás do muro

Nunca foge da labuta

Não tem medo do escuro

Mas a voz de Deus escuta.

Sua paz é difundida

Nos confins do universo

Com o seu direito à vida

Fez o seu caminho inverso

Não tem medo da partida

Pois com ela já fez verso.

Sente frio e sente fome

Sente dor e exaustão

O poeta não tem nome

Mas tem uma ocupação

Geralmente quando some

Foi buscar inspiração.

Sua fala compassada

Mostra um misto de amor

Na palavra sufocada

Mata um grito de dor

Numa estrofe mal rimada

Ele mostra o seu labor.

Na calçada do cinema

Que a vida lhe reserva

Ele oculta o seu problema

Misturando com a caterva

Em geral o seu dilema

Sua timidez preserva.

Não se põe a escondido

Sabe que está exposto

Seu caminho é conhecido

Nunca escondeu o rosto

Se um mal for prometido

Ele esquece o desgosto.

Quando o filho o aborrece

Lhe dizendo um palavrão

Ele logo reconhece

Que o filho tem razão

A ofensa logo esquece

E tenta aproximação.

Se a mulher com ele briga

Ela sempre tem razão

Pode ser alguma intriga

Ou talvez provocação

Mas pra isso ele não liga

Vice bem com a solidão.

No seu passo compassado

Carregado de mistério

Leva um fardo pesado

Por cumprir seu ministério

Sente que o corpo pesado

Já reclama o cemitério.

Não recebe uma visita

Sua voz está cansada

Alguém diz ser parasita

Parecendo alma penada

Para si tem a escrita

Que ajuda a caminhada.

Não tem sede de saber

O que sabe a vida tem

Pra cumprir o seu dever

Sempre quer fazer o bem

Sabe que quando morrer

Poderá morar no além.

Numa cama ao luar

Poderá se recompor

Vai continuar rimar

Para só falar de amor

Na certa vai encontrar

Algum outro trovador.

Juntos vão fazer cordéis,

Poesias, trova e verso

Vão rever os menestréis

Reunidos no universo

Cada um com seus lauréis

Conquistados no progresso.

Esta é a nobre sina

Do poeta trovador

Que cumpriu a sabatina

Que lhe fez preceptor

Agora também ensina

Fazer rima sobre o amor.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 18/08/2018
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