O ESGRIMA DA RIMA
Por Gecilio Souza
O cordel tem a caricatura
Da excelsa majestade
Seu trono tem a altura
Da justiça e da verdade
Interpela até a cultura
Problematiza a realidade
A filosofia lhe assegura
Grau de confiabilidade
Na estrofe se estrutura
A rima é sua identidade
Não é imunda nem pura
Está além da santidade
É lança que corta e fura
Amoralina que mais arde
No rosto feito à pintura
Que venera a falsidade
Denuncia a postura
Do homem vil e covarde
Identifica a tintura
Do caráter que se encarde
Aponta o sulco e a fissura
Que devoram a honestidade
Martelo que ninguém segura
Seu senhor é a liberdade
A mentira é rocha dura
Mas ante a tenacidade
Da rima altiva e madura
Evapora-se sem alarde
Sucumbe-se e se desfigura
E humilhada se evade
A patranha é fusca e escura
Tem ódio da claridade
Blasfemam-se a escritura
Cultuam a prosperidade
Espalham fome e amargura
Duplicam-se a propriedade
Se alimentam da usura
Mergulham na iniquidade
É falsa a sua conjectura
Sobre o mundo e a divindade
Maculam-se a magistratura
Pelo sabor da vaidade
Jogam na fossa a lisura
Alimentam a insanidade
Têm salários e fartura
Dormem cedo e acordam tarde
Regalias e armadura
Eles têm em quantidade
Quando a massa os procura
Esbarra-se na má vontade
Classificam essa loucura
De legal normalidade
Sua auto-propositura
Carece de eticidade
Contamina e captura
Segmentos da sociedade
Essa trama é a mistura
Da esperteza com a maldade
É cisão e rachadura
Na histórica civilidade
Quem não preza a leitura
Pronuncia leviandade
O saber ele esconjura
E pratica barbaridade
Não entendem a curvatura
Tampouco a circularidade
Não toleram a ternura
Pregam o fim da alteridade
Uma arma na cintura
Não salva a humanidade
Escopeta e viatura
Maquiam a criminalidade
Os prosélitos da tortura
Professam religiosidade
O moralismo é uma frescura
Ataca com ferocidade
Uma peste prematura
Pretende gerir a cidade
Que pereça na fervura
A fascista temeridade
Despenhadeiro e fundura
Tiraram-lhe a capacidade
Itinerário da desventura
Cortejo da infelicidade
Seu destino é a sepultura
De lúgubre profundidade
A social tessitura
Sofre grave enfermidade
É aviltante a conjuntura
Submersa à vulgaridade
A justiça é uma rasura
Da falsa celebridade
A empáfia tem a largura
Da jurídica brutalidade
Dane-se a geração futura
A atual se foi a metade
O princípio da formosura
Baseia-se na sinceridade
O valor não tem espessura
A ética requer qualidade
A história é uma urdidura
Feita pela coletividade
A mais popular criatura
Foi posta atrás da grade
Líder de maior estatura
Vítima da arbitrariedade
Sequestro que não se apura
Suprema é a cumplicidade
É o preço da candidatura
Que emana da legitimidade
Exige-se sua soltura
Por ordem da legalidade!