No papo da onça
Topei co'a onça no mato,
A bicha urrou e eu gritei:
Valei-me São Judas Tadeu!
Na hora a gata deu um salto,
Por pouco eu não me borrei!
Tentei correr, mas não deu,
A onça cravou suas garras
No embornal que eu trazia,
E por mais que eu puxava,
Mais perto da onça eu ía.
Oh! Valei-me Santa Maria!
Mas a onça também rezava
E por certo lhe agradecia
Pela graça que alcançava.
Enquanto a onça sacudia,
- E eu firmado na correia-,
Começou uma ventania
Fazendo voltas na areia.
Girando e dando pipoco,
Qual cavalo em carrossel.
Saímos quebrando toco
E fazendo um escarcéu!
Quebramos peroba-rosa,
Maçaranduba e jacarandá.
A bichana era tinhosa,
Não queria me "largá"!
Chegamos nas ribanceiras,
Esfolados que dava dó!
Firmei as minhas perneiras
No enrosco de um cipó.
E igual trompo de piá,
Giramos por cinco dias,
Sem a onça me "sortá"
E sem eu frouxar o nó!
Foram tantos ave-marias,
Que a danada arrefeceu,
E num urro, sem medida,
Pulou na gruta e correu.
Cansadaço de toda "peleia"
Deitei na sombra e dormi.
Da onça eu virei a ceia.
Sonhei que estava no céu
C'os santos todos ao redor.
Foi assim que eu morri!
E parti desta... pra melhor.