NORDESTINO DE SEDE E FOME MORRE, MAS NÃO SE FAZ A TAL TRANSPOSIÇÃO.

Ainda quando Brasil era império,

e dom Pedro o nosso imperador,

fim da fome no nordeste vou pôr,

disse ele como muito critério.

Mas nordeste continua cemitério

E o seu povo sofre no sertão

com a falta d’água, também de pão,

e assim mesmo ninguém o socorre.

Nordestino de sede e fome morre

mas não se faz a tal transposição.

Nordestino antes de tudo um bravo,

quando vê o sertão esturricado,

foge da seca muito apressado.

Mas no Norte e Sul torna-se escravo.

Ainda é usado para conchavo,

pois político, com sua falação,

promete que as águas jorrarão.

Mal passada a eleição ele corre.

Nordestino de sede e fome morre

mas não se faz a tal transposição.

Até já se criaram vários órgãos

pra socorro dos pobres nordestinos,

mas dinheiro levado por cretinos

serve para comprar carros, mansões

e dar boa vida pra espertalhões.

No Ceará construíram Castanhão,

que mal feito já sofre erosão

pode ser até que parede torre.

Nordestino de sede e fome morre

mas não se faz a tal transposição.

Na justiça o tema hoje emperra.

Povo tem fome e necessidade

Muitos pra viver buscam caridade.

E de fome há gente que se ferra,

pra eles a justiça sua porta cerra.

Pois demora julgar qualquer ação,

mas a fome campeia lá no sertão.

Nordestino de sede e fome morre

mas não se faz a tal transposição.

Sobre sol causticante abrasador

luta pela vida no dia- a- dia.

Falta de água sua grande agonia

está a aumentar sempre essa dor.

Medo da seca é o seu terror.

Faz apelo pra sua superstição.

Estremece se canta o carão,

porque seu canto pra seca concorre.

Nordestino de sede e fome morre

mas não se faz a tal transposição.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

SETEMBRO/2007