A GRANDE VIAGEM

Por Gecílio Souza

A existência humana

É comparável a um trevo

São caminhos que se cruzam

Em baixo ou alto relevo

Trilhá-los todos não posso

Ficar parado não devo

Desistir é morrer por perto

Vou longe se me atrevo

Os solavancos da vida

Abastecem o meu acervo

Sou metamorfose ambulante

Razão pura e puro nervo

Quando não consigo andar

Me concedo descansar

E algum poema escrevo

Enquanto sigo viagem

Ideias povoam a mente

Perguntas desconcertantes

Me faço frequentemente

Dilemas existenciais

Me deixam impaciente

E se eu tivesse viajando

Por estrada diferente?

Estaria eu mais feliz

Ou nem tanto descontente?

Na ausência de respostas

A esta dúvida persistente

Chego à conclusão sozinho

Que a gente segue o caminho

E o caminho escolhe a gente

Sem conhecer o roteiro

Assim mesmo vou andando

Ora ultrapasso pessoas

Muitas vão me ultrapassando

Nesta via de mão dupla

Quanta gente se encontrando

É um labirinto complexo

As metas se antagonizando

Nuns trechos passo sorrindo

Noutros trafego chorando

Vários terminam no começo

Inúmeros no fim começando

Tantos compartilham o trajeto

Morrem ou revisam o projeto

De mim vão se separando

A viagem é um amálgama

De medo e teimosia

Apreensão causa a tristeza

Persistência gera a alegria

Sou um viajante arisco

Que aposta mas desconfia

O solo disforme e movediço

Pista torta e escorregadia

Às vezes aparece alguém

Me propondo companhia

Nas minhas debilidades

Busco a quem me auxilia

Caminhar é se expor

Ao sol quente abrasador

E à noite chuvosa e fria

Há quem devote a vida

Ao poder, dinheiro e fama

Declarando amor ao trio

Mas o tal trio não o ama

Tão somente o separa

De quem vegeta na lama

Como qualquer outro mortal

O campo santo lhe chama

No cemitério irá comer

Bastante raiz de grama

Por certo que a morte é

A mais democrática dama

Gostariam que ela falhasse

Porém não importa a classe

Ela aceita e não reclama

Trechos íngremes sinuosos

Instáveis e acidentados

Sobre os quais pisam os homens

Com seus fardos carregados

Uns andando lentamente

Outros correndo apressados

Quantos deles se sucumbem

Desiludidos e cansados

È que os tropeços da viagem

Os deixam debilitados

Então no diário da vida

Os passos são registrados

Viajando em campo aberto

O fim ficando mais perto

Os horizontes acinzentados

Para o ocaso da existência

Todos os caminhos indicam

A viagem é tão curta

É como estrelas que piscam

Os peregrinos em frenesi

Parecem aves que ciscam

Trocam a vida pelo ouro

As circunstâncias o confiscam

O egoísmo e a ganância

Se acumulam e multiplicam

Sem saúde e sem vigor

Pouco comem, só beliscam

Maquiam a própria tristeza

Deixam herança e riqueza

Para o prazer dos que ficam

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 27/06/2018
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