TRIBUTO AO LIVRO
Por Gecílio Souza
Fala tanto e tão calado
Um mestre da locução
Múltiplo e multiplicado
Que transcende à geração
É um coração quadrado
Cheio de signos e afeição
Sábio pensamento grafado
Com destaque e distinção
Os termos têm significado
Cada página uma lição
Limpinho ou empoeirado
É digno de predileção
Muito rico e educado
Se põe à disposição
Não se satisfaz escondido
Prefere ser aberto e lido
Quer estar em alguma mão
Dialoga com a razão
Do seu assíduo leitor
Substitui-lhe a opinião
Pelo sistemático rigor
É avesso à lassidão
Não precisa de favor
Se abre à dedicação
Ouví-lo é um ato de amor
As letras em composição
Do oculto compositor
Está além do padrão
O conteúdo é seu valor
Sustenta a civilização
Do progresso é promotor
Um povo sem literatura
Presta culto à ditadura
E assassina o escritor
Ele explica a morte e a dor
O prazer e o sofrimento
Ouve a angústia e o pavor
Do seu entusiasta sedento
Conselheiro e consultor
De quem o consulta atento
O livro é um amigo doutor
Atende a todo momento
E o seu idealizador
Merece o melhor monumento
No livro há também calor
Prazer, afeto e alimento
As letras resolveram propor
Com o papel um casamento
E foi deste matrimônio
Que temos o maior patrimônio
Em forma de conhecimento
Quanta dica e ensinamento
Implícitos em cada linha
Sem prazo nem vencimento
O saber não se definha
O livro é o maior invento
Que o primeiro povo não tinha
Após lê-lo, o violento
Pôs a espada na bainha
Suas páginas são o pavimento
Onde a sofia se aninha
Cada letra é um ligamento
De sua dorsal espinha
Adentrá-lo é desprendimento
A escrita não fala sozinha
Fechado na biblioteca
O livro vira hipoteca
E a traça lhe esfarinha
O livro não advinha
Se alguém vai lhe abrir
Uma sociedade burrinha
Se preocupa em consumir
Biblioteca e escrivaninha
Fazem o indolente fugir
O ignorante caminha
Distância para se divertir
Seu ambiente é a cozinha
Para comer e deglutir
O livro se opõe à telinha
Porque insta o refletir
Não tem biblioteca vizinha
Se tiver, lá não que ir
E num silêncio gritante
Jaz o livro na estante
Contra o tempo a resistir
Livro quero lhe pedir
Com desvelo e emoção
Não se deixe sucumbir
À louca virtualização
Seu espírito há de ouvir
Cordial solicitação
O que sinto irá sentir
Meu quadrado coração
Não é possível medir
O alcance e a dimensão
Do que posso extrair
Desta nossa relação
Quisera eu possuir
Pleno poder de abstração
Quanto tem me ensinado
Você, coração quadrado
Meu amigo, meu irmão!