Desarranjo In-pestinal

I

Há certas coisas na vida

Que a gente não esquece,

Por serem boas ou trágicas

Depende como acontece...

Comigo aconteceu uma

Que eu mudava se pudesse.

II

Tive a honra e prazer

De tocar para Jesus

Numa missa celebrada

Por Dom Edmilson da Cruz

Mas em vez de Cirineu

Foi eu quem levou a cruz.

III

Tudo ia muito bem

Naquele dia dos pais

Era uma excursão da Jô

Que uma vez por ano faz

Para Serra do Estêvão

Com um grupo de casais

IV

E eu era um dos tais

Membros daquela excursão

Pra puder tocar na missa

Afinei o violão

E a Jô puxava o coro

Da grande celebração

V

Com a igreja lotada

Começamos a cantar

Os cânticos iniciais

Para o povo animar

Enquanto Dom Edmilson

Preparava o altar.

VI

Nós havíamos combinado

Q’eu faria uma saudação

Em repente para os pais

No fim da celebração

Momento muito aguardado

Por todos da excursão.

VII

De repente eu sentir

No meu corpo uma fadiga

Um suor, uns calafrios

Um mal-estar na barriga

Pensei: deve ser as tripas

Brigando com as “lombriga”

VIII

O povo todo cantava

Em um clima fraternal

E eu rezando pra que a missa

Chegasse logo ao final

Naná já tinha notado

Q’eu estava passando mal.

IX

Ao meu sinal ela veio

Me socorrer no momento;

Discretamente peguei

A chave do apartamento;

Abri a porta depressa

Quase dando um passamento.

X

Ficava a 50 metros

O nosso AP da capela

Parecia 50 léguas

Ô viagem longa, aquela!

Quando eu sentei no trono

Vi o quanto a vida é bela...

XI

Senti uma paz de espírito

Que nunca tinha sentido

O meu mundo em preto e branco

Voltou a ser colorido!

Eu agora era um Rei...

Ao trono tinha acendido.

XII

Oh meu amigo, que alívio

Eu senti naquela hora!

Agradeci a Jesus

Também à Nossa Senhora

Mas antes de terminar

Alguém me chamou lá fora.

XIII

Era a Jô, nossa cantora,

Que estava me chamando.

-Oh Tião, venha tocar

O povo tá esperando.

O quê está acontecendo?

Respondi: estou cagando!

XIV

-Como é? Está cagando?

Isso é hora de cagar?!

Respondi: melhor aqui

Que em cima do altar!

Diga ao bispo que não vou

Nem se ele me pagar.

XV

Olhe, daqui eu não saio,

Daqui ninguém me tira!

Dê uma desculpa ao povo

Que tanto me admira.

Não diga que tô cagando

Que eu digo que é mentira.

XVI

Mas logo a notícia correu

Foi o maior alvoroço

Uns diziam: foi a janta

E outros: foi o almoço

É dar casca de laranja

E chá de boldo pro moço.

XVII

Trouxeram-me um comprimido

Do qual eu nem sei o nome

Alguém disse: tem banana?

Sabe dizer se ele come?

Se tiver água de coco

É indicado que tome.

XVIII

Minha esposa muito aflita

Foi quem trouxe o violão

Não sabendo a gravidade

Do problema. Disse: Tião

Como é que tu faz isso

No meio da celebração!

XIX

Não dava pra segurar

Só um minutinho mais?

Já que tu ia encerrar

Com um repente pros pais!

Ô homi frouxo da gota!

Que papelão esse, rapaz!

XX

Foi aí que me lembrei

Do meu avô Edmundo

Discutindo com Seu Jonas

Na casa de Seu Raimundo

Qual as três coisas mais rápidas

Que existiam no mundo.

XXI

Um dizia: é um míssil

Outro dizia: é o vento

Seu Jonas se levantou

E disse: é o pensamento

Que vai daqui ao Japão

Numa questão de momento.

XXII

Seu Raimundo levantou-se

Bateu com força na mesa

E disse: é a energia

Disso eu tenho certeza

Se aperta o interruptor

E lâmpada está acesa.

XXIII

Mas o vovô Edmundo

Como sempre, ponderado,

Disse: é uma diarreia

Ontem acordei “apertado,”

Pensei em acender a luz

Já tava todo cagado!

Fim

Tião Simpatia
Enviado por Tião Simpatia em 13/06/2018
Código do texto: T6363402
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