Casa velha
Em um lugar escondido
No sovaco de uma serra
Uma ruína se enterra
Numa mata intocada
Que há tempo foi habitada
Renegada ao esquecimento
Exposta ao sol e ao Vento
E às chuvas do Sertão
Coberta por cansanção
Por um motim vegetal
Uma Catingueira faz mal
Numa parede em escombro
A escuridão faz assombro
No meio do matagal
Um pé de devora - sol
Se espraia na cumieira
Um espinheiro se inteira
Fastando a força o telhado
Um curral velho de gado
No cipoal se esconde
Um pé de fruta do conde
Se afoga no enxerto
Um chiqueiro passa aperto
Nas moitas de um juremal
Uma Catingueira faz mal
Numa parede em escombro
A escuridão faz assombro
No meio do matagal
Um piso velho batido
Se enche de formigueiro
Um atrevido Pereiro
Rasga o antro da cozinha
Um moital de goiabinha
Ocupa o quarto antigo
E um cupim faz abrigo
Na soleira da dispensa
A erosão é imensa
Sob a rudeza do Sal
Uma Catingueira faz mal
Numa parede em escombro
A escuridao faz assombro
No meio do matagal
O pouco que há do teto
É disputado com gana
Mucunã e jitirana
Se atracam na peixeira
Um pé de burra leiteira
Sobe a laje de uma fossa
Um alpendre leva cossa
De um Juazeiro faminto
Vassourinha e pega-pinto
Tiram a paz de um Jirau
Uma Catingueira faz mal
Numa parede em escombro
A escuridão faz assombro
No meio do matagal
Uma sandália corcunda
Perdida em um monturo
Um penico cheio de furo
Num aterrado Barreiro
Um cachorro perdigueiro
Não perdiga mais de nada
Só resta dele a ossada
Amarrada em uma corrente
Uma casca de serpente
Se enrosca num Pombal
Uma Catingueira faz mal
Numa parede em escombro
A escuridão faz assombro
No meio do matagal
Quem passa ali por perto
Há de lembrar-se de outrora
Daquela velha senhora
E de seu velho marido
Que num rincão escondido
Heroicamente viveram
Há muito que já morreram
Resta a casa abandonada
Uma ruína devorada
Pela boca de um Jangal
Uma Catingueira faz mal
Numa parede em escombro
A escuridão faz assombro
No meio do matagal.