O Violeiro Retirante

Nas idas e vindas

das estradas do sertão,

Sempre nos deparamos

com andarilhos de violas nas mãos.

Cantarolando os causos do sertão,

Trazem Alegria, tristeza e paixão,

Cantando o sol, o gado, a seca e a solidão,

Em troca de dormida, pinga e pão.

Vou contar a estória de João

Um andarilho bom de violão

E suas cantorias vale mais que tostão

e nem ouse dá-lhe esmola não.

Numa manhã de sol, chegou João,

Na vila de Santo Antão.

E na bodega da cidade, veio se a chegar

Com a viola na mão, pôs se a entrar:

-Vem joão, vem joão!

-Vem festejar nesse lugar!

-Porque daqui não sou!

-E nem vou ficar!

-Sou andarilho e vim para cantar!

-Mas em troca vocês vão me dá!

-Comida, pinga e uma dormida!

-Para a noite eu passar!

Assim, João passou o dia,

A comer, beber e a cantar,

Alegrando com suas melodias,

Aumentando as freguesias.

Caiu a noite na bodega do Seu Genivá

E chegou a hora de fechar,

Aí João disse: -quero ver agora

-Quem pra sua casa vai me levar.

E correu quem ainda estava lá

E nenhum um pé de cristão quis falar

E pra se livrar o dono da bodega

Disse um lugar bom vou te indicar:

-Lá em riba da ladeira

-Na casa do pé de juá

-Tem uma viúva que mora lá,

-É onde você pode se amoitar.

E João disse todo animado:

-Apói é lá donde vou cochilar.

Molhou o bico de cana

e mordeu um pedaço de jabá.

-Oh, de casa, minha senhora!

-Sou João tocador de viola.

-Tô aqui a pedido de Seu Genivá

-Pra você esta noite me deixar passar.

-Apói o Senhor vai embora,

-Aqui não tem dormitória.

-Sou viúva virtuosa

-E respeito do meu marido a sua memoria.

João tirando o chapéu, começou a chorar:

-Por Padrim Padre Ciço

-E nosso senhor Jesus Cristo

-Só por essa noite me deixe cochilar.

-Por meu Padrim Padre Ciço

-E por nosso senhor jesus Cristo

-Por esta noite vou deixar você ficar,

-Mas nem ouse você me tocar.

-Sou João tocador de viola

-Andarilho de muitas caminhadas

-Homem honesto de palavra

-E honrado nas minhas estórias

Assim, João teve onde pernoitar

E numa rede foi se deitar

E passou a noite na viúva a pensar

E a viúva ficou somente a esperar

E ao amanhecer com a viúva foi falar

Entrando lá para o terreiro, onde a viúva

No galinheiro, os bichos estava a alimentar

E no galináceo, uma coisa errada,

João não pode deixar de reparar

E João disse: -dez galos para vinte galinhas,

-Pois só um sem briga bastaria.

Pois a viúva que não gostou da dormida,

Deu-lhe uma resposta na ponta língua:

-De galo mesmo só tem um nessa girola

-E o resto é tudo tocador de viola.

José Carlos Pereira de Farias

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