CANTAR DE POETA
Todo chão é montanha pisada,
toda água é nuvem caída
toda areia é pedra moída
todo fogo é coisa queimada.
Tudo que vive, torna-se nada.
E o não tem como poder evitar
se é sólido, desmancha no ar
e nesse ciclo segue-se a vida
a porta de entrada e a de saída
ambas estão no mesmo lugar.
Por isso o poeta
que canta beleza
também a tristeza
por dentro lhe afeta.
E nada lhe aquieta
porque tudo é doído
ou é sem sentido
ou sentido demais
e o poeta só faz
quando já foi perdido.