O CASO MOTA COQUEIRO: A CONDENAÇÃO DE UM INOCENTE
1
Conceição de Macabu,
No período imperial,
Escreveu macabra página
Da crônica criminal
Devido ao que se passou
Na Fazenda Bananal.
2
Ali naquele local,
Existia um fazendeiro,
Muito rico e influente,
Pelo Rio de Janeiro.
Aqui começo a falar
Do Caso Mota Coqueiro.
3
Manuel tinha dinheiro,
Mas forte temperamento,
Por isso considerado
Um homem bem violento.
Com empregados não era
Bom seu relacionamento.
4
Um negociante atento,
Comprou, com grande alegria,
A dita propriedade,
Fazendo uma parceria
Junto a meeiro que, então,
Com os seus lá moraria.
5
Algum tempo passaria
E uma filha do colono,
Gestante, disse que o pai
Era Manuel, o dono.
Começou ali seu drama,
O cabra perdeu o sono.
6
Caiu ele em desabono,
Enfrentou muita chantagem
Por parte do pai da moça
Que, devido à 'sacanagem',
Nos negócios do patrão
Passou a querer vantagem.
7
O citado personagem
É Francisco Benedito,
O qual com Mota Coqueiro
Entrou em grave conflito
Porque, depois do episódio,
Era atrito atrás atrito.
8
O colono supradito
Acabou assassinado
Com sua família inteira,
Por chacina vitimado.
Foi mais ou menos do jeito
Que aqui está retratado.
9
O método utilizado:
Vários golpes de facão.
Eram oito matadores
Na fatal ocasião.
Escapou só a Francisca,
Essa grávida em questão.
10
Ao fim da matança, então,
Fogo e cena horripilante:
Por inteiro não queimaram
Os corpos, coisa chocante.
Na noite daqueles fatos
Tinha chovido bastante.
11
Acusado de mandante,
Foi Coqueiro a julgamento,
Enquanto a população,
Em um moral linchamento,
Inflamada pela mídia,
Pedia o sentenciamento.
12
Era forte o movimento
Em prol da pena ao sujeito.
A Fera de Macabu
Era alcunha do suspeito.
Perante aquele massacre,
Algo devia ser feito.
13
Queriam de todo jeito
Incriminar Manuel,
Mas as provas eram frágeis,
Seu castigo foi cruel.
Por sua vez, a justiça
Não cumpriu um bom papel.
14
Dizem que não foi fiel
O processo à realidade.
Seu defensor aventou
Uma possibilidade:
Os escravos, informantes,
Desejavam liberdade.
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Puseram dificuldade
Na defesa do senhor:
Prazos curtos, testemunhos
Duvidosos, sem valor.
A qualquer custo, portanto,
Ele seria o mentor.
16
O processo acusador
Findou neste resultado:
Acabou Mota Coqueiro,
Ao final, sendo culpado.
À pena de enforcamento
O cara foi condenado.
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Talvez fosse inocentado
Se checassem que no dia
E no horário da barbárie
No local não estaria
Porquanto na Casa Grande
Com outros se reunia.
18
Um burburinho corria
Após sua execução:
Antes do seu julgamento
Fez a um padre confissão,
Dizendo que a mulher, Úrsula
Tramou toda aquela ação.
19
Durante a investigação,
Outro detalhe esquisito:
Úrsula ficou maluca,
Doida, de dar até grito.
Piorou depois que o esposo
Cumpriu na forca seu rito.
20
Sem ser autor do delito,
Jurando ser inocente,
Lançou sobre Macaé
A maldição consistente
Em ter cem anos de atraso
Pela injustiça evidente.
21
Pedro Segundo, inclemente,
Tinha lhe negado a graça.
Imperador até justo,
Deixou-o morrer na praça.
Eis que nova descoberta
Aumentou mais a desgraça.
22
Conspiração e pirraça
Podem ter sido os motivos
Que os levaram a passar
Seus momentos aflitivos.
Política e traição
Foram pontos decisivos.
23
Tinha encontros sucessivos
Com mulher de um primo seu.
Contrariava interesses
E, por isso, padeceu.
Nas mãos de seus julgadores,
Sem culpa alguma, sofreu.
24
Diz a história que morreu
E não foi o derradeiro
Sob a pena capital
Neste solo brasileiro,
Mas seu caso foi impulso
Pra mudar isso ligeiro.
25
Sentiu abalo certeiro
Dom Pedro, ao tomar ciência
Que havia, naquele caso,
A mais completa inocência.
O fato foi crucial
Pra que o castigo letal
Pudesse ser abolido.
Isso aconteceu mais tarde!
Aquilo causou alarde
E até hoje é discutido.