CORDEL DO CASÓRIO

Aqui deste lado do mundo

Distante de a gente sonhá

Quando se quer contá um causo

Daqueles de se arrepiá!

Pra mode até se aliviá...

A gente se põe a rimá

Num cordel para o povo alertá.

Nas letra sem nada inventá,

Se conta o que se viu doutro mundo:

Dos cordel pelas bandas de lá,

Depois se pendura nas praça

Os conto das história a rodá,

Pra mode o povo todinho

Se por a também matutá.

Intão, vou contá bem fresquinho

Sem nem um pontinho aumentá!

Sem vírgula sequé para enfeitá!

Do sonho grande de princesa

De vida em plena realeza...

Que sempre se pomo a sonhá

Quar moça de lá, as de cá

Sonhamo em também sicasá

Com príncipe , bonito, cheroso

Vindo num cavalo pomposo

Sem nem um defeito apontá!

Sem nunca nem sapo virá!

Sempre desfilá elegante

Com o coração bem pulsante...

Pra mode a vida se assentá...

Na realidade reinante:

Pra nunca em trabaio pensá!

Não tô aqui a criticá

Só conto da verdade a reiná

E quero é dum casório contá.

A coisa tem que ser bem perfeita

Num pode um detalhe fartá

Tem que ser cena de cinema

Chiquê pra todo mundo invejá!

Pras bolsas crescê de apostá...

E que Deus me perdoe pensá:

Pra mode depois por nas rede

Pra todo invejoso babá!

Quar povo morrer que nem peixe

Sem ter como as conta pagá.

Intão, se anunciô a festança

Com todas as mais nobre nuança:

Tocaram todas as trombetas!

Do anúncio em anunciação,

Casório de plena união.

O rei parecia pomposo

Em plena satisfação...

E já recitava o decoro

Ao reino todo em prontidão:

-Em breve trocarão alianças!

Ao meu povo abro a plena festança!

A plebe já em forte comoção...

Pensava sem nenhuma noção:

“Como aquele rei era bão!”

E a fala continuava

A da História já tão bem contada:

-O meu povo será convidado

Em nome das causas humanas!

Ninguém ficará doutro lado

Do muro das vidas mundanas!

O povo todo enchiquetado

Dizia “Habemos o rei!”

Só não sabia ,-Óh coitado!

Que nunca seria sua vez.

O assunto corria redondezas

E já ultrapassava as fronteiras...

O mundo esperava o espetáculo:

Abriram-se todas as fortalezas...

O povo seria amparado

E até os mísseis do planeta

Pararam para ouvir o recado,

Limparam-se todas as sarjetas.

O presente do caro noivado?

Um anel bem espetacular

De o mundo todo a dilapidar...

Cravado de pedra em facetas

Também merecia as trombetas!

Pesado de se carregar...

Faria a pobre noiva suar,

A glória de, pomposa, noivar.

Protagonista da cena

Maió que a de todo o cinema!

De que já se pode mostrá

Nas tela da utopia a rodá.

Mas ao todo do povo sofrido...

Em nome do anel bem polido,

Os noivos dariam um jantar...

Um jeito de o mundo encantá.

O Cardápio seria a escolha

Direito a comer só uma folha

Da "Caesar" em nobre atitude,

Jamais seria só "fast food"!

Daí foi um deus nos acuda!

A plebe ficou furiosa

Queria toda a plenitude

Da plena honraria pomposa...

Não lhe bastava só prosa,

Não lhe bastaria uma folha

Direito à mesma rolha!

Bom vinho às suas vicissitudes!

Um brinde vindo da realeza

A toda sabida tristeza...

Da vida mundana lá fora

-Do velho ao novo obtuso!

Brindar as duras penas do mundo.

Intão se ouviu um panelaço

Iguarzinho aos do novo pedaço!

Que já foi soado na História.

Os grito cruzou os oceano

Panelas por todos os planos

Já esquecidos ao fundo

Dos alicerces dos muros.

A plebe berrava: absurdo!

Queria toda a realeza

Aos pé da iguardade do mundo.

Mas como em qualquer alegria

Montada pra encenar um bom causo

Aqui vou contar a agonia

Dos nobre com tanto percalço:

O padre parou a cerimônia

Trombetas fizeram silêncio

A imprensa sem parcimônia

Aproveitou do momento.

A carruagem da rua

Se emperrou na viela

A cena ficou toda nua...

Pelada quar fábula de Cinderela.

O noivo teve dor de barriga

O Rei desmaiou de aflição

A rainha de pompa aguerrida

Sentiu um treco no coração.

O pai da noiva em questão

Ficou de cuecas na mão,

Não pode nem sair na foto

Sequer pode dar os bons votos.

Confesso que aqui até choro

De nesse cordel lhes contá,

Eu juro, eu também tava lá!

Com a merma tristeza de povo

Num casório tão espetaculoso...

Difícil é de acreditá

Não tinha nem mais protocolo

Pra mode nóis se axiquetá!

A noiva logo tomou a palavra

Intão se pôs a discursá

Bem “proud” pela ocasião

De o povo poder ajudá!

Preciso era de se ter precisão

Pra mode já podê reiná,

E não dá mais o que se falá!

Falou em baixa amplitude.

-Ao povo os nobres quitutes

É minha primeira atitude!

Com toda delicadeza...

Como de toda a realeza.

O povo, intão, se aquietou

E logo o discurso aceitou

O que a História degustou de montão.

A plebe ficou espantada

Com toda aquela provação

Quem era a princesa arretada?

Não tinham lá muita noção...

Ficou bem impressionada

Como tanta nobre compaixão.

“Princesa tem que ter atitude!

Precisa ter boa intenção,

Além de ter bom coração”.

Corrente era a voz do povão.

Já fora espiavam nas frestas

Dos muros da ocasião...

Ali não bastariam migalhas

Pras fomes mundanas, em vão.

E bem no epílogo do causo

Que conto com muita emoção

Sem nunca faltar com respeito

Sequer a sentir um despeito

Por tanta achiquetação,

Termino meu conto encantado

Repleto de observação

Dum mundo de muro engessado

Sem contos de fadas em questão.

Só conto que de aliança apressada

Trocada em meio à confusão,

A princesa terminou arretada

Com a História ensinada na mão:

Declamou a poesia orquestrada...

Num verso meio sem entonação

Na mesma rima empossada...

-Ao mundo, brioches no pão!