A LENDA DO URUTAU

Um pássaro solitário,

Ele é mestre em camuflagem.

Seu canto, igual a gemido,

Parece um som de visagem.

Esse bicho é o urutau

Que feito um galho de pau

Pode deixar a plumagem.

É preciso ter coragem

Para, à noite, no momento

No qual emite seu uivo,

Semelhante a um lamento,

Não sair em disparada.

A mãe-da-lua falada

Causa mesmo assombramento.

Agora lhes apresento

Uma lenda difundida

Sobre o pássaro fantasma,

Como a ave é conhecida.

O relato é referente

Àquilo que mata a gente:

Uma paixão proibida.

Beligerância vivida

Por duas tribos rivais

Rendia muitas disputas

Lá nos confins florestais.

Cuimbaé, bravo guerreiro,

Foi feito de prisioneiro

Por inimigos dos pais.

Pelos desejos carnais

O jovem foi dominado.

Viu a filha do cacique

E acabou apaixonado.

Por Nheambiú, a mocinha,

Imenso afeto mantinha

E foi igualmente amado.

Tendo o coração tomado,

Ela pediu permissão

Para o pai porque queria

Com o moço a união.

Foi em vão a tentativa!

Diante da negativa,

Ela entrou em aflição.

Sem enxergar solução,

A moça fugiu pra mata.

O cacique, então, bradou:

"Encontrem aquela ingrata!"

E foi um 'Deus nos acuda'

Acharam imóvel, muda,

Feito pedra de cascata.

Chamado, o pajé, na lata,

Disse assim: "perdeu a voz!

A dor da desilusão

Foi, de fato, sua algoz.

Somente uma dor mais forte

Irá mudar essa sorte

E curar o mal feroz."

O cacique, logo após

Saber o que acontecia,

Desesperado, buscou

Dar fim à paralisia.

Disse à filha: "Cuimbaé

Está morto, pois não é?!

Mas que notícia sombria...

Ocorreu naquele dia

Episódio assustador.

A garota deu um grito

Melancólico, de horror.

Depois da cena funesta,

Ela sumiu na floresta,

Saudosa de seu amor.

O espírito sofredor

Foi, afinal, alojado

No corpo misterioso

De um animal emplumado

Que vive a espalhar lamúria

Por sua infeliz penúria.

Urutau foi decifrado!

* Adaptação de uma das versões da lenda.