O ANJO DE CHAPÉU.
Vi um anjo descansando
Numa nuvem prateada
Os olhos quase fechando
Com uma asa quebrada
Respirava lentamente
Era um anjo diferente
Dos anjos que tem no céu
Apesar da cena bela
Não possuía auréola
Mas usava um chapéu.
Eu fiquei observando
O tal ser angelical
Que dormia flutuando
No espaço sideral
Não segurei a vontade
Fui chegando sem maldade
Mas perto do tal anjinho
Foi ai que ele me viu
Abriu o olho e sorrio
Me transmitindo carinho.
Tirei logo o meu chapéu
Cumprimentei com respeito
Porque morador do céu
Não é dono de defeito
Mas como sou curioso
Perguntei em tom moroso
Se ele tava ferido
Ele nada respondeu
Acenou e me prendeu
Com um gesto comovido.
Tava mesmo enfadado
Porque se quer quis falar
Naquela nuvem deitado
Sem ninguém pra lhe velar
Parecia uma criança
Sem a mãe sem esperança
E sem um pai, desvalido
Que senti no coração
Uma vontade do cão
De proteger o ferido.
Mas quem sou eu nesse mundo
Para me sentir seguro
Sou um pecador imundo
Fraco, pobre e impuro
Eu nuca fui batizado
E não sou acostomado
A cuidar de seu ninguém
Quanto mas fazer arranjo
Para proteger um anjo
Que vinha lá do além.
Foi nesse exato momento
Que ele se levantou
Da nuvem feita de vento
Com esforço se sentou
Eu fiquei preocupado
Ao ver o anjo sentado
Em uma nuvem tão raza
confesso senti desgosto
ao vê-lo sem ter encosto
somente com uma asa
Mas para a minha surpresa
O anjo me respondeu:
"Eu me chamo gentileza
Vou contar o que ocorreu
Tava eu no céu voando
Quando ouvi alguém gritando
Em forma de oração
Era um grito doente
De um pobre inocente
Que pedia proteção
Antes de voar em frente
Pedi licença primeiro
Para O Pai Onipotente
Dono do céu inteiro
Vim de lá tão avexado
Para acudir o coitado
Que penava de um mal
Que ao sair lá de casa
Acabei quebrando a asa
No portão celestial.
O caso era urgente
E eu tava de plantão
Com um asa somente
Fui cumprir minha missão
Dando um voo razante
Cheguei no mesmo instante
Na casa do moribundo
Fiz ali o meu serviço
Cumpri com meu compromisso
Só faltando um segundo.
Depois do caso cumprido
Senti uma dor nas costas
E vi que tava ferido
Então me pus de mãos postas
Pedi pra ser resgatado
Mas o céu tava lotado
De anjos em reunião
Que não acharam motivo
E jogaram no arquivo
Minha solicitação.
Por mas que eu tivesse fé
Não iria achar jeito
Mal podia está de pé
Com a a asa com defeito
Então eu marquei carreira
Me danei numa ladeira
Pra ver se dava impulso
Mas foi em vão tropeçei
Finquei pé me levantei
Fiz de volta o percurso.
Ainda bem que eu sou
Para muitos invisivél
Se vissem o que passou
Seria bem despresivél
Um anjo estrupiado
Sem voar desconçolado
Sem poder voltar pro céu
Me senti como um jó
Preso numa asa só
Por cumprir o meu papel.
Meu tempo tava findando
Eu precisava voltar
Eu vi o tempo mudando
Com a chuva a desatar
Então pensei, é agora
Vou jogar a asa fora
Pra fugir da trovoada
Que saí pela janela
Esquecendo da auréola
No cabide pendurada.
Na hora do aperreio
Eu não prestei atenção
Na minha cabeça veio
Foi o chapéu do patrão
Mas ai já era tarde
Eu não quis ser um covarde
Que chore ou atrapalhe
Fiz carreira para o céu
Se auréola ou chapéu
Isso só foi um detalhe.
Por isso eu tô aqui
Fazendo essa escala
Mas quase que eu caí
Ao passar por uma vala
Mas sou um anjo macho
Não vou cair em riacho
Por causa de uma asa
Com auréola ou chapeu
hoje eu chego no céu
E entro dentro de casa.