A sandalha do pescador.
Esquecida uma sandália
Com o tempo desmanchou
Não apresentava a falha
Daquele que a fabricou
Era só parte da tralha
De quem a utilizou.
Essa sandália de couro
De alguém desconhecido
Não foi costurada em ouro
Ou com fio proibido
Não serviu de mau agouro
Seu dono era prevenido.
Era um jovem pescador
Que lançava a sua rede
Pra pescar o sofredor
E matar a sua sede
Era um forte pregador
Que dizia vende e vede.
Esse jovem pescador
Não tinha sequer um pão
Aprendeu na própria dor
Vinda com a desilusão
Que até o Criador
Permitiu a traição.
Ele caminhou na vida
Pregando um apostolado
Suas mãos reconhecidas
Como remédio aplicado
Sua voz foi sempre ouvida
Dizendo: Pai, obrigado.
Sobre a água caminhou
Ordenou sossego ao vento
Tempestade ele acalmou
E cumpriu seu juramento
De servir quem o criou
Até o seu passamento.
Perseguido por falar
Em um reino mais além
Alguém foi questionar
Por que não fugir também
Ele disse a exclamar
O meu reino é para o bem.
Os que o acompanhavam
Desejavam lhe servir
Nele sempre acreditavam
E gostavam de o ouvir
Quando longe ele ficava
Era pra se instruir.
Ninguém viu aquele homem
Se dizendo o salvador
Ele também sentiu fome
Ao ouvir o tentador
Que lhe disse agora come
O pão do seu criador.
Ele respondeu que o pão
Não é só um alimento
É também uma oração
Que parte do pensamento
De quem tem no coração
A chaga do sofrimento.
Esse jovem pescador
Pregava na sinagoga
Ensinava o pecador
Uma lei que não revoga
Tudo vem do criador
E pra Ele tudo volta.
Disse aos seus seguidores
Que o seu dia ia chegar
Seria um dia de dores
Tinha de se preparar
Pois a pena dos doutores
Era pra crucificar.
Ele então se entregou
Ao suplicio programado
No Sinédrio ele chegou
Para ser então julgado
E o povo o condenou
Para ser crucificado.
O seu corpo colocado
Numa tumba protegida
La depois ressuscitado
Prometeu dar nova lida
A quem tudo foi negado
Ganharia a nova vida.
A sandália que usou
Já serviu de amuleto
Certo que não a levou
Para o lugar perfeito
Dela se desvencilhou
Mas não apontou defeito.
Hoje não mais se comenta
Que traído pelo povo
Muita coisa se inventa
Pra matar ele de novo
Ele tudo isso aguenta
Porque suporto o estorvo.
Esse homem foi Jesus
Homem filho de Maria
Morreu pregado na cruz
Por tremenda covardia
Hoje o seu nome produz
Uma estranha idolatria.
Ele não quer ser usado
Como a seiva do espinho
Prefere ser respeitado
E mostrar o bom caminho
Ter o seu nome falado
Com respeito e com carinho.