SONHAR

SONHAR (29/04/2018)

Por Gecílio Souza

Sonhar é um passeio da alma

Por rincões desconhecidos

É a erupção dos desejos

Que no despertar são contidos

Dormindo a razão faz

Um acordo com os sentidos

Sonhando o cérebro libera

Os ensaios proibidos

Fulgores corporais hedonistas

Pelas morais combatidos

Mas o sonho nos transporta

Aos paraísos perdidos

Onde as regras e os preceitos

São simplesmente esquecidos

Os truques da irreverência

No sonho são permitidos

Os melhores lances do sonho

Sempre são interrompidos

Em geral bem começados

E em regra não concluídos

Violamos qualquer moral

Quando estamos adormecidos

Os roteiros amorosos

Jamais serão esquecidos

Arroubos sentimentais

Nos deixam entorpecidos

Então ao nos despertarmos

Nos sentimos iludidos

Desejando que os tais lances

Sejam sempre repetidos

E que os futuros sonhos

Fossem ao menos mais compridos

É lá na terra dos sonhos

Que somos mais atrevidos

Ali viola-se as regras

Sem escândalos ou alaridos

O que aqu são palavrões

Lá são meros apelidos

Há sonhos intensos e picantes

Também há os desinchavidos

Existem os pré-cognitivos

Como existem os mais temidos

Morrem todas as fansaias

Se os sonhos forem abolidos

Quando há frustações oníricas

Nos despertamos abatidos

No imaginário do sonho

Onde somos acolhidos

Sonhando os “puros” se tornam

Moralmente os mais bandidos

Pois no sonho é que os preceitos

São revogados ou invertidos

Não existem bons costumes

Nem catecismos distorcidos

Sonho é um puxadinho da vida

Onde agimos descontraídos

Os dias dos melhores sonhos

Não deveriam ter amanhecidos

Os falsos moralistas se despertam

Com os preceitos corrompidos

Mas no sonho se perdoam

Todos os erros cometidos

Invariavelmente os sonhos

São sombrios ou coloridos

Sonhos são sub-pavimentos

Muito trágicos ou dvertidos

Porém os sonhos se perdem

Naqueles dias mal dormidos

Sonhando fugimos do real

Para ficarmos distraidos

Bom seria se os sonhos

Fossem melhor esclarecidos

Pois seus vernáculos e verbetes

Não são nítidos aos ouvidos

Às vezes o sonho traduz

Projetos e planos falidos

Muitas vezes os sonhos são

Fatos pretéritos remoídos

Ou vultos do inconsciente

Historicamente retidos

Nas profundezas da alma

Silenciosamente mantidos

Também o subconsciente

Contém em si recolhidos

Alguns substratos dos sonhos

De complexidade revestidos

E quantas vezes se sonham

Pelos traumas compelidos

Os sonhos revelam segredos

Cotidianamente omitidos

É nele que múltiplos mundos

Vão sendo então construídos

De prazeres e ideais

Pelo moralismo tolhidos

O sonho é o extravasamento

Dos sentimentos obstruidos

Gostoso é infringir regras

Sem jamais sermos punidos

A rigor no fim do sonho

Todos somos absolvidos

Os atos mais irreverentes

No solo onírico reunidos

É uma das rotas de fuga

Dos desejos reprimidos

Sonhar também é reviver

Os dilemas mal resolvidos

Aqueles que não sonham mais

Vegetam desiludidos

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 29/04/2018
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