Bolso no aro
Há tempo ando capenga
Sei um vintém para um cego
Estou quebrado e não nego
To sem almoço na quenga
E pra aumentar a pendenga
Não acho nem para o bucho
E se acho é puro luxo
Pois dindim é um caso raro
Estou com o bolso no aro
Feito um pneu quando murcho
Pensei até ser mendigo
Perambular que nem bicho
Virando lata de lixo
Se hospedar num abrigo
Fazer morada em jazigo
Pra não pagar aluguel
Morar até em quartel
Fazer da ponte um Amparo
Estou com o bolso no aro
Sem ter no bolso um papel
Quando trafego atoa
E me deparo com um bar
Sem um tostão pra gastar
Essa visão me atordoa
Só tomo vento e garoa
Volto pra casa com frio
Sem Esperança e sem brio
No desespero eu varo
Estou com o bolso no aro
Completamente vazio
Mas quando a sorte aparece
Meu bolso enche de novo
Não como mais pão com ovo
Meu coração não padece
Recito mais que uma prece
Pra não dizer a tal frase
Porque mudei já de fase
Não digo mais no disparo:
Estou com o bolso no aro
Me enrolando na gaze.