JULGAMENTO DO FEROZ
O palco do julgamento foi montado,
Estava o Meritíssimo Juiz e o Promotor,
Depois chegou o Réu e o Advogado.
Pedindo que rezasse ao Nosso Senhor.
Os jurados se assentaram do lado do Juiz,
O réu era conhecido de todos os presentes,
Olhou de soslaio e se sentiu feliz,
Pois pressentia o que emanava daquelas mentes.
O Juiz arguiu o réu pedindo seu depoimento,
Foi nesse momento que a porca torceu rabo,
Cogitou começar por seu sofrimento,
Não pulando nenhum pormenor que se deu a cabo.
A lembrança colheu seu passado que veio a tona,
Num relampejar sua memória foi até a infância.
Lembrou dos apetrechos de couro e da velha safona,
E do tordilho marchador que galopava na estância.
O Juiz pediu lhe que somente falasse dos fatos,
Começou contando como fora interceptado pela vítima,
Que o golpeou com uma foice acertando lhe os sapatos.
Assim pensou de repente em agir de forma legítima.
Empunhou o smith e disparou-lhe tres tiros certeiros,
Antes do feito pediu a Deus para lhe dar a forma feroz,
Ferocidade para perdoar aqueles olhos morteiros,
Que relampeava com o golpe da foice de modo atroz.
Ajoelhou sobre o corpo inerte do homem sem vida,
Tirou o chapéu e fez o sinal da cruz por arrependimento,
E disse ao Meritíssimo que não havia outra saída,
Ou outra maneira de liquidar com seu velho tormento.
Isto posto o Juiz pediu ao promotor para inquirir o réu,
Este respondeu que ratificava o que havia nos autos,
Disse o mesmo para o advogado que olhou para o céu,
E disse aos sete jurados que aquele homicídio era "incauto".
Retirou-se o Juiz junto com seus colaboradores,
E logo voltou com a esperada sentença descritiva,
A atenção da plateia mirava para os eméritos senhores,
E o setes jurados absolvera o réu de forma irrestritiva.
Daquele dia em diante o réu foi chamado na cidade de feroz liberto,
Mas a familia da vítima não ficou nada satisfeita,
Então o feroz teve que fugir para um lugar ermo e deserto,
Voltando para os braços da família quando a mágoa foi desfeita...