TÔ FAZENDO MEIA-NOVE
DESEJANDO FAZER MAIS

 
 
A vida só é bem vivida
Se vivida com prazer!
E para isso o lazer
Tem que ser parte da vida.
Mesmo uma vida sofrida
Não deve parar no cais
Do sofrimento. Ademais
Desesperar não resolve.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
Mas em primeiro lugar
Para que o barco da vida
Suporte a luta renhida
Com as ondes fortes do ‘’mar
Da ilusão’’ tem que estar
Ligado a vários canais
De uma forma que estes tais
O seu cuidado comprove.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
49 era o ano,
30 de março era o dia,
Nasceu Rosa de Maria
Que, salvo algum engano,
Sem programação, sem plano,
Como todos os demais
Seria uma boca a mais
Se a morte não ‘’remove’’.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
Por vezes ‘’escapei fedendo’’
Da foice da desgraçada,
Da tinhosa, malfadada,
Volta no corpo fazendo.
Sem saber, me defendendo
Da fome e de coisas mais,
Com a ajuda dos meus pais
Que com todo o amor me envolve.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
Criei-me com melancia,
Caju, laranja, juá,
Cana, banana, araçá...
Lá perto da Travessia[i]
No Jerimum[ii] onde havia
Mata fechada e animais
Que, por falta de fiscais,
Já mais nada ali se move.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
Mesmo com dores nos ossos,
Andando manquitolando;
De bengala precisando,
Já me escorando nos troços;
Os calcanhares já grossos,
Me achando, às vezes, demais
Em uns e outros locais
Que a mente arcaica reprove.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
Por alguns sou odiada
Mas por outros sou querida!
Isso faz parte da vida,
Faz parte da caminhada!
Se levo alguma topada
Não vejo nada demais!
Sigo, sem olhar pra trás!
A vida segue – me move.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
Se alguém critica o que faço,
Recebo como lição.
Merece a minha atenção.
Da crítica ruim não desfaço!
Como a boa é como um laço
Que fixa o barco no cais.
É como um banho de sais,
Que o mau olhado dissolve.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
 
A vida deu-me desgosto
Mas deu-me gosto também!
Pensando em fazer o bem,
Assumo nela o meu posto,
Sem ver as rugas do rosto,
Sem ligar para as banais
Picuinhas dos rivais
Que nada de bom promove.
Tô fazendo meia nove,
Desejando fazer mais.
 
Meia nove, estou fazendo.
Se você maliciou
Outra coisa, se enganou.
Porém eu juro que entendo!
Meu amigo, eu compreendo!
Pois sei que de mais a mais
Tu só pensas no que estais
A fazer. Nada o demove!
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
É da idade que eu falo
Sem haver duplo sentido
Vindo de mim. Permitido,
Porém, será pra regalo
Dos meus amigos, pensa-lo
Com malícia por demais,
Trajados de oficiais
Do riso, que a tudo envolve.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 
Findo aqui agradecendo
A todos que dispuseram
Seu tempo e aqui me deram
O prazer de estar-me lendo,
Ou ouvindo, inda não tendo
Interesse nos finais
Que relembra os ancestrais
Lá do Século Dezenove.
Tô fazendo meia-nove,
Desejando fazer mais.
 

 
 Isso foi ano passado.
Hoje já estou com setenta
mas o corpo ainda aguenta
movimentar-se um bocado.
Porém lembro: no passado,
A coisa era diferente:
Tinha mais aberta a mente.
Hoje já estou esquecida.
Isso faz parte da vida!
Vivo de bem meu presente.

 

 
Rosa Regis
 
Natal/RN – março de 2018
 
29/03/2018 – 23h:55min.

 
 
[i] Sítio Travessia – Município de Jacaraú-PB
[ii] Sítio Jerimum – Município de Jacaraú-PB