CADÊ O TREM?!

Resistindo ao tempo bruto
Vejo a velha litorina.
Num suspiro solitário
Vai nos trilhos a menina...
Da ferrovia um resquício,
Aliviando o suplício
Que Porto Velho abomina.
 
À sua volta lancina
O desolador cenário:
Escombros de linda história
No pátio ferroviário.
Uma ironia, de fato:
Dentro da máquina o mato!
No passado era o contrário...
 
O paulatino calvário
Da linha férrea famosa
Deixou a cidade triste
Sem referência, chorosa.
A certidão de nascença
Sofre pela indiferença
De uma turma poderosa.
 
Hoje ela vive, saudosa,
No coração desse povo.
Daquele estridente apito
Quando lembro me comovo.
Ah, Madeira-Mamoré,
Queria te ver de pé
Fazendo graça de novo!