Marielle (presente de nós roubado)
Dias escuros nos esperam
pois o comodismo nos dominou.
Marionete, linhas invisíveis
limitam o até onde eu vou.
Precisamos tomar atitude,
senão onde tudo vai parar?
Se formos todos pras ruas
ninguém vai poder nos parar.
Vivemos o Apocalipse...
Quem duvida?
É só observar o valor
que a sociedade dá pra vida.
A morte da lutadora comemorada
por boa parte da torcida.
Acompanhamos, na verdade
a barbárie estabelecida.
Defender o pobre
incomoda muita gente.
Imagina se este povo todo
começa a pensar diferente!
Começa a enxergar
que pelas elites é explorado.
Por isso, quem explora
foi se sentindo incomodado.
Na mídia, o pobre
é chamado de menos favorecido.
Mas na fala das elites
é considerado bandido.
Mesmo que ele trabalhe
e tenha filhos pra criar,
no final é a cor da pele
o único critério para o julgar.
Por isso gente como Marielle
é considerada perigosa.
Pra muitos, abalar as estruturas
é coisa pra lá de desastrosa.
Falar em distribuição de renda?
Muitos não vão nem considerar.
Como não são pobres mesmo,
deixa quem é se lascar.
Mas líderes como Marielle
aqui morrem a todo momento.
As investigações?
Quase nunca são levadas a contento.
Esbarram em muito dinheiro
e em gente poderosa,
que são sempre liberadas
se alegando falta de provas.
Comemorar a morte?
Olha, isso não convém,
principalmente pra aquele que se considera
homem ou mulher de bem.
A sociedade apodrece
pra quem enxerga, a céu aberto.
Crianças crescem num mundo
onde não é muito claro o que é certo.
O rico rouba milhões
e não para aí a nossa vergonha...
a lei só serve para o pobre
flagrado com uns cigarros de maconha.
Não é difícil entender
quem ganha com esta situação.
O pobre se afunda cada vez mais
pois é o mais fraco na rede da exploração.
Nas escolas, a educação
divide espaço com a droga.
Enquanto o auxílio moradia
é defendido por quem tem toga.
É essa a nova lógica...
desvalorizar o que é direito
pra poder manter o privilégio
de uma minoria de sujeitos.
O estudante, na escola
pra ele não encontra mais nada.
Além da lição
que por ele mesmo é desprezada.
Ao contrário de outros tempos,
não vê nelas formas de subir na vida.
Sabe que existem posições a galgar
mas o sistema torna íngreme a subida.
A desesperança toma conta do jovem,
que se vê sem chances de a vida melhorar.
Muitos vêm no mundo das drogas
uma forma de seu cotidiano amenizar.
Começam consumindo este produto
de utilização proibida.
Depois se vêm comercializando,
como forma de ganhar a vida.
O tráfico nas comunidades
ganha status e aceitação.
Afinal o poder público
só vai lá em época de eleição.
Depois de eleitos,
os políticos desaparecem.
Aqueles que os elegeram?
Com rapidez deles se esquecem.
Ao contrário dos políticos,
o tráfico está sempre presente.
E muitas vezes ocupa o espaço de
vereador, prefeito e até presidente.
Em muitas situações é o traficante
que organiza o lugar.
Acredite ou não, já soube até de casos
de distribuição de material escolar.
Mas quem vai falar por nós?
Poucos tem a coragem de levantar a voz.
E como são poucos,
facilitam a vida do algoz.
Mas como seria bonito
a união de toda a classe trabalhadora!
Seria tanta gente reivindicando
que venceria a metralhadora.