CORDEL – Mote – A morte será um bem – Quando a vida for um mal – 09.03.2018
Quando a vida for um mal
A morte será um bem
MOTE
(PRL)
(1)
Dizia-me um grande amigo
Cuja saúde integral
Cortaram o meu umbigo
No dia de carnaval
Puseram-me no desdém
Tratamento sem igual
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(2)
O pai dele era tenente
Da polícia local
Todos eram boa gente
Tinha nome de Amaral
Sempre gostou dum harém
Era um grande liberal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(3)
Todos lá dele gostavam
Um servidor pra valer
As crianças o chamavam
Queriam seu parecer
Só dele e de mais ninguém
Conselheiro sem igual
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(4)
Sua casa bem humilde
Vizinha dum lamaçal
Sua mulher, a Matilde,
De vida espiritual
Labutava no armazém
Pertinho da capital
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(5)
Mas o tenente era pobre
Ganhava uma miséria
Pra cuidar de gente nobre
Que só pensa na matéria
Foi tentado por alguém
Esnobe, mas sem moral,
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(6)
Nada mais que um político
Da capital federal
Era pequeno, nanico,
Desgraçado e desigual
Não admitia, porém,
Puxou ao velho ancestral
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(7)
Por sua vez a patroa
Ganhava reles salário
O mínimo, e numa boa,
Zombou daquele ordinário
Que só quer o que convém
Faz o povo de animal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(8)
Querendo facilidade
Pra uma carga de pó
Implorou por caridade
Que dele tivesse dó
Mas ainda foi além
Com propina genial
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(9)
O tenente sustentou
Com segurança firmada
Foi quando denunciou
Aquela triste cantada
Preferiu não ser refém
Numa atitude abissal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(10)
A notícia se espalhou
Pela atitude leal
Muita gente se espelhou
A promoção foi fatal
Bom soldado lucro tem
Foi pra casa triunfal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(11)
Mas no caminho de casa
De surpresa foi detido
Quando a notícia vaza
O cara queda abatido
Foi junto à beira do trem
Duma pistola letal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(12)
Dona Matilde coitada
Quando soube do ocorrido
Ficou toda agoniada
Querendo ver o marido
Dirigindo a mais de cem
Foi direto ao hospital
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(13)
Logo a viúva chegou
Já era tarde demais
Pois o tenente embarcou
Voltar, pra ela, jamais,
Quando tal desgraça advém
Sua dor é visceral
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(14)
Então ela desmaiou
Cor dores no coração
Mas o médico chegou
Nessa mesma ocasião
A pobre foi pro além
Solidária e conjugal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(15)
Avisado o filho dela
De carro veio acudir
Foi olhar pela janela
Uma bala o fez cair
O tiro partiu d’alguém
Duma postura anormal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
(16)
Acabou-se uma família
Da paz e da humildade
Cuja culpa é de Brasília
Meu Deus pela caridade!
Não tem quem valha um vintém
Mande os anjos afinal
A morte será um bem
Quando a vida for um mal
.
Ansilgus
Qualquer semelhança é mera coincidência
Fonte da foto: INTERNET/GOOGLE
16/03/18 14:31 - Jacó Filho interagiu assim:
Da descrença ser refém,
Neste grande lamaçal,
Alternativa, não tem,
Sem ser ladrão e boçal...
Então peço pro além,
Aprecem meu funeral...
A morte será um bem,
Quando viver é um mal...
Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre..
26/03/18 22:37 - Alelos Esmeraldinus, o Bosco Esmeraldo, me contemplou:
Excelente, Nobre Mestre Antônio!
Um show de cordel com bela interação do Jacó Filho.
Meus aplausos!
D'us os abençoe!
Que cuidou na juventude
Colheu bons frutos mais tarde.
Quem do mal faz grande alarde
Definha-se nessa atitude.
Mas é perfeito? Diz quem!
Por mais que seja normal?
A morte será um bem,
Quando a vida for um mal.
08/04/18 23:04 - Fernando A Freire interagiu assim:
Na cabeça o poder ferve
de quem assume um mandato,
e eleitor só lhe serve
se engraxar o seu sapato
e inda prejudica alguém
cometendo ato imoral
A morte será um bem
quando viver é um mal.