A FEBRE DO CELULAR
O corre-corre da vida
Começou com telegrama
Afastou as pessoas, mas
Televisão pegou fama.
E a internet não junta
Quem dorme na mesma cama.
E nessa vida maluca
Não temos tempo pra nada.
Tudo pra nós é urgente
Menos a pessoa amada.
Não vemos quem é presente,
Mas quem está afastada.
E só damos atenção
Ao bendido celular.
Estamos sempre à procura
Do Wi-fi pra conectar
Pra fazer o tal checking
E mostrar onde se estar.
E cada vez mais estamos
Fugindo do mundo real.
Pois o importante mesmo
É ter amigo virtual.
Tirar self, fazer posse
Como artista global.
A febre do celular
Criou um mundo de fantasia
Como se esta vida fosse
Feita somente de alegria,
Mas tudo isso não passa
De efêmera euforia.
Os homens levando chifres
E as mulheres também.
Mas não largam celular
Nem mesmo dentro do trem
Quem anda de bicicleta
Faz self, nem que vá pro além.
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
FORTALEZA, MARÇO/2018