(1)
Fui criado com rigor
Meu pai era muito duro
Mas sempre me deu amor
Olhando o nosso futuro
Minha mãe, que sempre amiga,
Nunca deixou de acudir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(2)
Ao completar os seis meses
Já não urinava na cama
Era raro, só às vezes,
Disso guardo boa fama
Nem mesmo dor de barriga
Não me fazia afligir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(3)
Fui pra escola logo cedo
Aprender o beabá
Dos bravos não tinha medo
Pra logo me acostumar
E nessa mesma cantiga
Eu queria evoluir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(4)
Quatro anos de primário
Disputava palmo a palmo
Com um riquinho ordinário
Mas eu me mantinha calmo
Parecia uma lombriga
Bem doido pra competir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(5)
Walter era o nome dele
Sujeito forte e robusto
Vontade de bater nele
Mas de forte tinha susto
A meninada que o diga
Pois cansei de discutir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(6)
O bicho era resistente
Levava muita paulada
Por vezes tão indolente
Sua cara machucada
Eita cara duma figa
Quero de logo admitir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(7)
A rixa ficou antiga
Fomos pra diretoria
Quem rico é nunca liga
Levava na anarquia
Tal casa de rapariga
Interesse a colidir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(8)
Mas a minha professora
Nos fez belo desafio
Ela grande sonhadora
Botou água no pavio
Nada que ela não consiga
Só queremos aplaudir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(9)
Ela então nos disse tudo
Pra quem fosse melhor nota
Uma bolsa para estudo
Com base na sua cota
Aquilo serviu de viga
Um norte pra conduzir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(10)
A sorte foi inimiga
Na redação me ferrei
Acabou-se toda intriga
Mas tal louvor não ganhei
Desejo que alguém me siga
Só querendo construir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
.
.
.
Ansilgus

 
Nota: A briga é mera invenção.Mote baseado em ditado popular de domínio público.

09/03/18 00:34 - Maria Madalena de Jesus Gomes, pela madrugada, nos brindou com a seguinte interação:

CORDEL (Com Ansilgus)
(1)
Fui criada com carinho
Mas com rigor necessário
Nada de fugir do ninho
Só festa de aniversário
Uma noite houve intriga
Eu briguei até cair
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(2)
As pessoas apartaram
A outra menina briguenta
Nem sequer elas notaram
O quanto eu fiquei sedenta
De socar a rapariga
Fiquei até sem dormir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair.
(3)
Não acabou por aí
Pois juntas nós estudávamos
No outro dia foi ali
Que os cabelos nós puxávamos
Uma professora leiga
Decidiu não intervir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair.
(4)
Teve arranhão na canela
Teve corte no pescoço
Gente olhando da janela
Gente causando alvoroço
Ficou roxa a barriga
Olhos a se contrair
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(5)
Carol ela se chamava
Não podia ser assim
Perto de casa morava
Ela tinha raiva de mim
O certo era ser amiga
Uma pra outra sorrir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair.
(6)
Minha mãe benevolente
Falou com mãe de Carol
Ambas tão experiente
De castigo teve um rol
Uma lista que condiga
Com a paz pelo porvir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair.
(7)
O meu pai mais exigente
Fez uso da palmatória
Fiz carinha de inocente
P'ra acabar com aquela estória
Pegou cinto, sola, liga,
E eu nada de desistir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair.
(8)
Só quando adolescentes
Jovens na universidade
Tornamo-nos complacentes
Rimos da adversidade
Não abalou nossa viga
Nem o que estava por vir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair.
(9)
Trabalhamos qual formiga
Na festa de formatura
Diversão, dança, cantiga,
O que passou foi loucura
Embora a mente persiga
O remédio é prevenir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair
(10)
Aprendi uma lição
É melhor se não brigar
Fiquei com a impressão
Que eu sorri pra não chorar
Não quero ter inimiga
É vero não sei mentir
Detestando entrar na briga
Pago bem pra não sair.

MADALENA DE JESUS
 
Muito grato poetisa, honrou-me bastante sua participação.


05/03/2018 17:58 - Kid verso interagiu muito bem e disse:

Liga não que é assim mesmo
quando a gente ainda é criança
fazemos coisas a esmo
consequência é redundância
tem até quem faça figa
quando ouve o leão rugir
"detestando entrar na briga
pago para não sair".
 
Espetacular cordel poeta, parabéns! Abraço.




05/03/18  - Cristina Gaspar, grande poetisa, assim se expressou:

'Eu sou tão calma
 Só não tolero injustiça
 É sua mão, sua palma
 Quando criança, bem roliça
 No gol queria jogar
 Um garoto não deixou
 Um tapa me acabou por lançar
 Devolvi, minha mãe me ensinou
 Não comece, mas, não venha reclamar
 Na diretoria eu e o patife
 Muita bronca e remorso a recair
 E em cada olho, um bife
 Em outra esparrela não me deixei cair
 Detestando entrar na briga
 Paguei pra não sair'

É um mimo, mas, verdadeiro momento da minha infância. Parabéns por
mais um delicioso cordel, você é genial, muito obrigada por seu
carinho, abraços fraternos, fique com Deus.

Muito grato prezada amiga e poetisa.

06/03/18 10:02 - Jacó Filho, a quem agradeço, interagiu assim:

No geral fico de fora,
Das atividades novas.
Sinto-me indo pra cova,
Se alguém vem insistir.
Mas se a hora obriga,
E não posso resistir,
Detestando entrar na briga,
Pago bem pra não sair...

Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...

08/03/18 - Miguel Jacó, poeta amigo, se fez presente assim:

Fui criança sem escola
estudei até no mobral
depois de alfabetizado
li filósofos geniais
inveja não me instiga
a vida me faz intuir
detestando entrar na briga
pago bem pra não sair.

de tudo já li um pouco
isto fora da escola
mas lá aprendi a forma
de buscar o que interessa
o saber não me castiga
desejo sempre florir
detestando entrar na briga
pago bem pra não sair.

Boa noite Ansilgus, parabéns pela bravura com que defendeu este
irreverente mote, e minhas reverências a estas suntuosas interações,
um abraço a todos vocês, MJ.
 
Mui grato caro Miguel Jacó, grande Mestre da poesia. Meu abraço...ansilgus.