GECILOSOFIA - O MARTELO DO CORDEL
Por Gecílio Souza
A natureza nos ensina
Lições de democracia
O sol nasce para todos
Todos têm a luz do dia
Mas a cultura humana
Operou uma estripulia
Desde então a igualdade
Segue uma assimetria
Muitos vivem na carência
E alguns na mordomia
Distribuem-se migalhas
Travestidas de cortesia
Esmola humilha o homem
E revoga a cidadania
Onde a miséria campeia
Não há população sadia
Doenças e desnutrição
Rondam os lares da maioria
Humanos garimpam comida
Outros morrem de anorexia
Das riquezas nacionais
A alta classe se apropria
Ostenta poder e fortuna
Se regala na orgia
Suas mansões são universos
Com piscina e academia
Há quadra esportiva e cinema
Zoológico e churrascaria
Se assemelham ao Buda jovem
Quando na redoma vivia
Ardilosos à espreita
Com maquiavélica ousadia
A imprensa inescrupulosa
Mente, incita e alicia
Faz o jogo do capeta
Para aumentar a sua fatia
Seu mote não é a notícia
Mas a própria economia
Sataniza a política
E o Estado a subsidia
Sua lógica é a contradição
Sua ética é a hipocrisia
Satiriza a classe baixa
Nas novelas do dia-a-dia
Contra as políticas sociais
Dispara sua artilharia
Pobre é para prestar serviço
Sem ter qualquer garantia
É para servir à casa grande
E sofrer na periferia
Trabalhar e andar de ônibus
Ser doméstica ou bóia fria
Bater panelas e sumir
Depois da falsa euforia
Pagar caro o gás de cozinha
E ter a dispensa vazia
Ser usado como bucha
Em favor da burguesia
Ver TV e consumir
Programas que dão azia
Faustão, Huck e Sílvio Santos
Televisiva desenteria
Ratinho, Datena e Leão Lobo
Thiago Leifert e Ana Maria
Big Brother e outros insetos
Que ofendem a sabedoria
Os donos da casa grande
Gargalham de alegria
Estava certo Ruy Barbosa
O intelectual da Bahia
Ao denunciar o farisaísmo
Que a política propicia
Eis que surge um entrave
Que o andar de cima repudia
Para tirar-lhe o sossego
Existe a filosofia
Ela coloca sub júdice
A empáfia e a fidalguia
Desconstrói cada sofisma
Qua a nata social pronuncia
Do ponto de vista humano
É uma classe sem serventia
Se apropriou do direito
Fez da lei uma tirania
Persegue os opositores
Aos amigos reverencia
Condena e prende inocentes
Libera quem os denuncia
Mas a história é impiedosa
Com a vingança faz porfia
O justiceiro de hoje
No futuro chora e mia
De quem usurpa a justiça
Só restará a fotografia
Quem sobe um dia desce
Ouçam a voz desta poesia!