A verdade.

Sou verdade e sou eterna

Entre os justos sempre estou

Também sou uma cisterna

Cuja fonte não secou

Assim sou a fonte eterna

Do melhor que Deus criou.

Sou virtude sem limite

Nunca vou onde há cifrão

Se houver quem por mim grite

Sem que eu não esteja à mão

Mesmo que a dor me habite

Sempre sou bela canção.

Se eu tiver algum defeito

Assim mesmo me bajulam

Ando sempre em campo estreito

Cujas linhas me seguram

Meu falar sempre perfeito

Ignora o que murmuram.

Minha casa está na alma

De qualquer homem de bem

Quase nunca perco a calma

Sei ouvir quem a mim vem

Meu conselho sempre acalma

Nunca ouço com desdém.

Homem sério me cultua

Mulher honesta também

Nunca fui uma charrua

Onde vou só levo o bem

Se por mim foi para a rua

Foi por não se cuidar bem.

Companhia sou pro justo

Acompanho o ser honrado

Sou a sombra do arbusto

No deserto abandonado

Sou a serva do Augusto

Que morreu crucificado.

Sou fermento para a paz

Não viajo à escondida

O amor em mim se faz

Sempre sou esclarecida

Tudo que é meu apraz

Nunca sou escarnecida.

Todo amor que há no mundo

Primeiro passou por mim

Fujo do lugar imundo

Não é ideal pra mim;

Não frequento o submundo

Esse é principio do fim.

Sigo sempre a esperança

Mesmo estando apagada

Quando não dou a bonança

É parte da encruzilhada

Onde estou não há vingança

Ponho a arma ensarilhada.

Sempre que houver um justo

Nele terei companhia

Sou algo de baixo custo

Mas que dá muita alegria

Quem me tem não leva susto

Pois caminha em calmaria.

Ao justo eu dou calmaria

Mesmo estando a sós consigo

Pro injusto ventania

Que lhe tira o próprio abrigo

Sua vida de orgia

Só lhe serve de castigo.

A verdade não tem cor

Não se serve do Poder

Oferece o seu frescor

A quem lhe dá o viver

Somente oferece amor

Mesmo quando faz sofrer.

A verdade é perene

Nunca muda de endereço

Guarda em si virtude extreme

De não se formar com preço

Ante si o forte treme

Por saber que eu apareço.

Eu não sou dona da terra

Mas sou dona do quinhão

Daquela parte que encerra

No seu peito a solidão

Que nem mesmo a terra enterra

Quando me levam ao caixão.

A verdade não dá trégua

Não permite transação

Não se mede com a régua

Não se junta a mutirão

Nunca se fingiu de cega

Nunca nega o seu perdão.

Ela sempre está presente

Nos trabalhos aonde for

O vendedor que não mente

O honrado comprador

O sofrer do paciente

A ciência do doutor.

Está junto ao Promotor

Que pede absolvição

Ao réu que em desfavor

Pediu a condenação

Não sendo ele o mentor

Tampouco autor da ação.

Está junto ao bom Juiz

Que aplica o seu saber

Ensinado o aprendiz

No bom Direito viver

Que também corta a raiz

Do mal que pode ocorrer.

Está junto ao bom pedreiro

Que vai sempre levantar

A parede por inteiro

E o piso nivelar

Vai ajudando o bombeiro

Toda água a escoar.

A verdade está nas selvas

Que é a própria natureza

Pode ser vista nas relvas

Onde expõe sua beleza

Pode estar até nas trevas

Pois não perde a pureza.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 02/03/2018
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