Segredo de Estado
I
Tenho coisas nesta vida
Que não posso revelar.
E vou sempre suprimir,
Nunca poderei falar.
Na Costa do Cabo Norte,
Ou acima do Pará.
II
Uma dor, uma ferida
Bem escondida no canto,
Vive aqui dentro de mim,
Causa-me lamento e pranto,
É falta que traz vertigem;
Sonho que me traz espanto.
III
Não posso dizer o nome
Daquela que nunca esqueço.
Não bebo para esquecer,
Mas na saudade eu soluço.
Bebida não é remédio,
É desculpa de pinguço.
IV
Hoje estou comendo o pão
Que ninguém mais quer me dar.
Os poetas seresteiros
Já não querem mais cantar;
Não tocam meu coração
Com um verso tão vulgar.
V
Eu sinto a necessidade
De nunca lhe incomodar.
Já levanto uma questão
Mesmo sem poder falar,
Tenho orgulho do passado
E coragem de esperar.
VI
Algumas questões vitais
Não podem ser esquecidas:
Hoje eu vivo sufocado
Pelas dores das feridas,
Por um monte de perguntas
Que não vão ser respondidas.
VII
Imeri, Tumucumaque,
Ainda vão ser menores.
Araguari, Amazonas,
Também não serão maiores.
O que restou para mim
Foram as coisas piores.
VIII
Quero lembrar essa amada
E a saudade que ela traz.
Já me sinto conformado:
Esquecê-la, nunca mais...
Mas não vou dizer o nome,
Pois não me sinto capaz.
IX
Se o Equinócio nos trouxesse
Um pouco mais para cá,
Talvez até o Bailique,
Ou mais perto do Araxá...
Não posso dizer o nome
De quem quero sempre amar.
X
Se eu chegasse ao Marco Zero,
Diga: O que aconteceria?
Zerava minha tristeza
E me aumentava a alegria?
Será que não vai chegar
Esse abençoado dia?
XI
Os versos de Carla Nobre,
E Manoel Bispo Correa,
Não acalmam meus suspiros,
Nem o que trago ma veia.
Amor não correspondido
É a mais terrível cadeia.
XII
Não posso dizer quem é
A mulher longe de mim,
Que sempre esteve bem perto
E tão entranhada assim.
- Oh, se eu pudesse falar!
Nunca chegaria ao fim.
***
(Cisco R. Perantos, 15.2.2018)