CORDEL - O REI DO CANGAÇO
Autor: Agnaldo Tavares Gomes
(2005)
Em mil novecentos e tanto
Ao sol brazeiro inclemente
Do sertão de Pernambuco
Um certo Chico Vicente
Afamado Chico Frouxo
Deu-se uma de valente
Em tempo de Virgulino
Capitão do cangaço
Pra mais lhe da no tino
O afamado Lampião
O caba mais temiudo
Daquela região
Esse tal ccChico Vicente
Adoidado de repente
Mandou a Vigulino
Um bilhete em remetente:
Chico Vicente de Olinda
Agora Chico tenente
De posse do bilhete
Vertigando o que dizia
Assustou se de repente
Gritando com ironia:
Diga a ela que espere
Vou curar-lhe a agonia
Quere ver se tem peito
De provar o que ta dito
O meu nome é Viergulino
Desconheço o maldito
Diga a ele lá vai eu
Atender seu pedido
No bilhete a Virgulino
Chico Vicente assim dizia:
Convoco a lamparina
E toda a cagaçaria
Pra um combate amanhã
Sob o sol do meio dia
O combate é diferente
Não se viu nesta cidade
É preciso de uma bola
Pra começo da novidade
Uma trava em cada lado
Onze cabra em igualdade
O meu time ta montado:
Eu, Ruela, Mossoró
Amarelo, Bituí
Pirulito e tocotó
Raimundinho, Tititií
Zé Finí e Morotó.
Te aguardo Lamparina
Ce e todo seu cagaço
No limpão de frente a igreja
Não há mio espaço
Pra acertar nossa peleja
Ver quer é Rei do Cangaço
No dia seguinte Virgulino
Chamoe Zé Roxo e Severino
Catuaba, Cartucheira
Cagadilho e Filipino
Zé Ruela, Forofó
Rapadura e Bandilino
Disse: vamos que hoje é dia
De jogar o futebó
Quero0 ver Chico Vicente
E seu time de bocó
Dizer que sou o Rei
Do cangaço em pleno o só.
Chico Vicente e seu bando
Prontidão de fronte a igreja
Virgulino e o cangaço
Aos poucos se lampeja
A coraça centro ao campo
Tudo pronto pra peleja
Virgulino da a partida
Passa a bola pra Severino
Que toca de calcanhar
Pro amigo Filipino
Faz a finta em Raimundinho
Toca a frente em Bandilino
Bandolino vai pro ataque
Pronta a bola pra chutar
Tocotó lhe desse a caldo
Tira a bola do lugar
Catusba e Cagadilho
Mossoró põe pra dançar
Virgulino ponta o rifle
Mossoró nem quis saber
Deixa a bola e sai correndo
Procurando se esconder
Virgulino chuta em gol
Pro goleiro defender
O goleiro Zé ruela
Agenita a bola no lugar
Pra cobrar tiro de metra
Por a bola pra rolar
Virgulino ponta o rifle
Pede logo pra chutar
Zé Ruela da um tiro
A coraça vai pro ar
Amarelo estica o peito
Que é pra bola se esvalar
Na pancada se esvalesse
Põe no chão a despojar
Cagadilho panha a bola
Emfia pra Forofó
Bandilinpo estica o braço
E acerta Morotó
Impedindo que ele lasque
A canela de Forofó
Não impede Bituí
Bem na frente a lhe calçar
Filipino a Virgulino:
Capitão é bom matar
Que é pra dar como lição
O cabra que derrabar
Lampião riscou um tiro
Bituí pois se a gritar:
Não me mate Virgulino
Tenho um fio pra criar
Tenho dó deste marica
Que acaba de se brear
Lampião baixou o rifle
E disse a Filipino:
Tome bastante distância
Chute com muito tino
Nem que lhe quebre os dedos
Que lhe póque o intestino
Filipino fez o que disse
Seu capitão Virgulino
Mandou um sarrafo pro gol
Ruela caiu ribulino
Bateu a custela no chão
E a bola encontrou seu destino
Chico Vicente tremendo
Tentava fugir de mrepente
As pernas não lhe obedeciam
Frouxou de novo o valente
Defronte ao cano do rifle
Que lhe cutucava bem quente
O dono do rifle gritando
Ao pé de seu ouvido:
Repita sujeito o que disse
Naquele bilhete atrevido
Que é o Rei do Cangaço?
Tu veste calça o u vestido?
Chico Vicente tremendo:
Só tava brincando patrão
Debaixo do meu vestido
Eu uso um carsolão
O Rei de todo o Cangaço
É vós-me-cê Lampião.