A SAGA DO RICO E DO POBRE.
Cordelistas... cordelistas!
Atentem pro meu recado:
O papagaio até fala
Mas não entende o riscado
O presidento diz "fico"
Roubando até 'fazer bico'
E o povo rindo um bocado!
Na escola, o filho do pobre
Mal aprende o 'beabá'
No hospital, o doente
Se é rico, vai se curar
Porém, se o danado é pobre
Sobra gripe, falta o cobre
Morre do jeito que está!
Na rua o rico passeia
Num carro lindo e blindado
O pobre vai de magrela
Olhando pra todo lado
Se o ladrão não lhe assalta
Esse mal não 'lhe faz falta'
Na frente é atropelado!
Até na hora da missa
Tudo ali é desigual
O padre ao benzer o rico
Usa água mineral
Pergunta se 'quer com gás'
O pobre esperando atrás
Se tem água, é torneiral!
O rico vai viajar
Num 'A trezentos e oitenta'
Aeromoça é bonita
No colo do rico senta
O pobre vai de carroça
A pulga o corpo lhe coça
Chega o couro se arrebenta!
Chegando no estrangeiro
O rico todo 'fru-fru'
É recebido com pompas
'Verigudi, ailoviú'
O pobre todo lascado
Escuta pra todo lado
Palavras rimando em 'u'!
Na praia o rico de férias
Desfila na 'apoteose'
O garçom vai na areia
Lhe oferece uma dose
O pobre de sunga velha
Bebe suco de groselha
Sai torrado e com micose!
Ao rico no restaurante
Na hora do seu jantar
'Filé a chateubriand
Foie gras com caviar'
Vinho de safra escolhida
E a sobremesa servida
É o mais fino manjar!
O pobre vai num boteco
Lá no meio da favela
No bar acabou a 'força'
Vai comer 'a luz de vela'
O dono traz um papel
"Hoje tem sarapatel"
"Vô de pão com 'mortandela'"!
Tendo findada a viagem
O rico volta disposto
O corpo já descansado
Sorriso largo no rosto
"Amanhã volto ao batente"
Na empresa é o presidente
Volta assumir o seu posto!
Terminada a agonia
Levantando as mãos ao céu
O pobre volta pra casa
Devendo até o chapéu
"Ser pobre não é defeito"
Não encontrando outro jeito
Retorna escrever CORDEL!
(Zé Roberto)