O MEU RIMANCEIRO * Admoestação

Dói-me este tempo parado.

Caminhos sem caminheiros…

Que relógio abandonado

sem ter corda nem ponteiros!...

No movimento aparente,

desde a manhã ao sol pôr,

tece o sol incandescente

um manto de luz e cor.

As memórias soterradas

sangram nas papoilas rubras

que sonham desesperadas

o dia em que as redescubras.

A sono solto dormindo,

teimas em não dar por nada.

Nem sonhas o sonho lindo

que há em cada madrugada.

Nas noites de estio ardente,

cantam grilos ao luar

na sinfonia estridente

que em vão te quer despertar…

Mas como um justo tu dormes,

como se fossem tranquilos

estes escombros disformes

que desesperam os grilos.

O que é dos outros cobiças,

numa inveja envergonhada…

e, alheio ao que desperdiças,

acabas por não ter nada.

Tens as nozes do rifão,

p’ra parti-las não tens dentes…

Se és assim por condição,

assume-a e não te lamentes!

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 28 de Janeiro de 2018.

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 30/01/2018
Reeditado em 03/03/2018
Código do texto: T6240572
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.