Vida de Sertanejo - Cordel

Den’da caatinga braba,

O sol mais que reluzia,

Queimava as costa do pobre,

Que na roça vivia,

Trabalhan’o dia de serviço,

Para pagar o que divia.

Descendente de africano,

Explorado pelo sistema,

Herdou a sua fortaleza,

Para enfrentar os dilema,

Busca fé e força em Deus,

Fazen’o prece e novena.

É castigado pela seca,

Que impera no sertão,

Trabalha desde menino,

Atrás de seu ganha-pão,

Mas só tem o valor de um voto,

Em tempo de eleição.

Depois disso é esquecido,

E sua esperança se encerra,

Sonha com a reforma agrária,

Em ter sua própria terra,

Onde possa plantar e comer,

Sem precisar fazer guerra.

Escapan’o das mazelas,

Procuran’o as melhora,

Pega tudo o que tem,

Joga den’da sacola,

E feito retirante,

Pega a estrada e vai embora.

Quando chega na cidade

Se depara com a civilização,

Onde todos têm estudo,

E ele, nenhum tostão,

Sofre feito um condenado,

E todo decepcionado, volta para o sertão.

De vez em quando faz festa,

Para algo comemorá,

O nascer de um fio,

Ou um lugar para morá,

Faz arrasta-pé no terrero,

E todo mundo a forrozar.

Comem quitute bem feito,

Mesmo com o pouco que tem,

A mulher sertaneja,

Não faz vergonha a ninguém,

E na beira do fogão,

Faz vatapá, beiju e xerém.

E assim o home sertanejo,

Tem para ele essa glória,

Cumê do mió tempero,

Já é uma vitória,

E ter do lado uma guerreira,

Que não lhe sai da memória.

A caatinga é sua casa

A terra: o seu sustento,

Vive só pra trabaiá,

Superan’o o sufrimento.

Não se deixa intimidá,

Traz na veia a fortaleza,

De um home exemplá.

Mesmo cheio de lamúria,

E razão para lamentá,

Sertanejo aprende cedo

Que tem muito para se honrá,

Pois um coração forte e rocero,

Cabra no mundo intero,

Não pode ter um iguá!

1°lugar categoria Cordel no concurso Jovens Talentos da Literatura - IF Sertao Campus Petrolina